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Amigos (parte 2) ou A hora da partida

A partida

No dia da partida, uma querida amiga me perguntou: – Como está o coração? Quero um artigo depois deste momento… Sobre como é isso nos sentimentos…

À pergunta eu respondi: – Muito confuso. Muito rápido. É como casar… Passamos tanto tempo planejando e, quando chega a hora é tão rápido que a gente nem vê!

E ela disse: – Sei que vão ser muito felizes… Vocês são inspiradores.

É… Ir sem saber em que dia voltará é muito diferente. Quando se tem passagem de volta, nem é preciso dizer tchau. Basta um até logo. Basta dizer: “Oba! Férias!”. Mas é muito diferente quando não se sabe.

A gente vive com um nó na garganta. O coração aperta. Os olhos lacrimejam quando lembro que estou longe dos meus. Dos pequenos e dos novos, dos grandes e dos velhos. Dos fortes e dos fracos.

A gente sofre com as incertezas, com as incompreensões, com incongruências e com a distância.

A despedida

Nos últimos dias antes da partida fomos amados. Eu decidi que não haveria despedida. Não haveria festa, nem comunicação oficial. Acreditava que um “Até breve” seria a melhor escolha.

Mas, mesmo assim, muitos amigos saíram da toca para nos ver e foi maravilhoso. Outros nos convidaram para entrar e fizeram de tudo para que os momentos que passamos juntos ficassem marcados como os melhores de nossas vidas. Alguns vieram de longe e dedicaram horas singulares que ficarão gravadas em nós. Em outros casos, fomos nós que percorremos milhas. Apenas para poder usufruir mais uma vez daquelas companhias que tanto nos fazem bem.

Muitos amigos não se incomodaram tanto. Talvez porque nosso tempo passou. Ou talvez porque eles sabem que a distância nada significa. O tempo correu e muitos amigos nós não conseguimos ver. Tanta coisa aconteceu. Fomos impedidos pelas circunstâncias, mas restou a fé de que chegará a nossa vez.

Novos amigos apareceram também. E, mesmo sem saber, concretizaram sonhos e possibilidades. De tudo que passou, muita coisa ficou. Mas quase nada sobrou para contar a história. Não há fotografias, não há registros, só há memória.

O vazio

Os últimos dias antes da partida passaram voando. Misturavam-se em mim muitos sentimentos. Por um lado, não via a hora de partir. Sentia saudades daquela terra que sempre quis chamar de minha. E quando lembrava então que talvez não voltasse… Ah… A saudade… Ah… os paradoxos da vida. Vazio. Era melhor nem pensar. Não lembrar.

Executei mil e uma tarefas no piloto automático. Eram tantas preocupações que às vezes faltou respirar, enxergar, viver o presente. Faltaram muitas tarefas a serem concluídas. Yeah… terei que viver com isso… Com a inconclusão, com as pendências, com “unfinished business”. E não importa se disseram: tudo bem, eu resolvo por você. Afinal, logo eu, que tanto digo para tomarmos cuidado com o legado que deixamos?

Os sentimentos

Ir embora, pela primeira vez, foi um turbilhão de sensações. E, por mais que as evitasse sentir, minha barriga esfriou, minha garganta fechou, e molharam os meus olhos.

Gargalhadas e sorrisos, brindes de vinho ou cerveja, pulos e apertos, beijos e abraços… Já sinto saudades. Passeios, caminhares, presentes e trocas, pedidos e ofertas de ajuda… Já sinto saudades. Confidências e confissões, olhos nos olhos, o simples toque… Já sinto saudades.

O abraço apertado de minha sobrinha. O sorriso de quem nem sabia que era uma despedida… Já sinto saudades.

Cheiros, sentidos, texturas. Cores, brilhos, padrões. Aqueles foram dias que não queremos esquecer.

Afinal, saudade não é coisa brasileira. Saudade também existe aqui em Portugal.

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Trilha Sonora deste post:
93 Million Miles – Jason Mraz

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

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