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O dia em que torci pelo Flamengo

Todo mundo que me conhece sabe: sou anti-flamenguista roxa. Já torci para o Vasco da Gama, para o Fluminense e até para o Botafogo. Mas sempre recusei-me a torcer pelo Flamengo. 

Mas tenho um motivo… É que quando comecei a entender-me por gente, mais ou menos quando aprendi a ler, as notícias do jornal diziam que torcedores do Flamengo iniciavam as brigas no Maracanã. Por isso, sempre associei o time a atos violentos. E, para somar ao cenário, sou filha de vascaíno que ensinou a filha a ser vascaína. Deu nisso. Flamengo nunca. (E convenhamos: “Ô povo chato sô”!)

Aí, contra todas as previsões e expectativas, casei com um flamenguista e… nada mudou. Afinal, ele é um flamenguista suave, que não se preocupa em assistir futebol de tipo nenhum. E, apesar do assunto já ter rendido algumas brigas entre nós, o assunto sempre fica em segundo plano. (E os filhos também. Porque, afinal, pra que colocar mais flamenguista no mundo?).

Até que viemos para Portugal. Estamos e ficamos aqui alheios a tudo e a todos. Estamos em um local com acesso muito limitado à internet e a comunicação com o mundo exterior tem sido extremamente complicada. 
Enquanto isso, o Flamengo avançou no Campeonato Brasileiro e fez um belíssimo percurso até a final da taça Libertadores da América. E a última coisa que eu poderia imaginar com este cenário é que iríamos assistir a final entre Flamengo e River Plate.

Sábado a noite na companhia do Flamengo

Aconteceu que no sábado a noite, fomos convidados para jantar em uma típica tasca portuguesa, um tipo de bar que serve comidas caseiras e dispõe de televisão para exibir programas populares e jogos de futebol. Pois… Flamengo e River Plate era o que estavas a passar ali.

Enquanto meu marido eufórico ficava, eu desacreditava que aquilo estava acontecendo. Como pode? Nunca havíamos assistido juntos a um jogo do Flamengo. E a primeira vez seria ali, em um minúsculo vilarejo às margens do Rio Douro, em Portugal.

Claro que os portugueses estavam a explicar que o momento era muito importante. Afinal, o técnico do Flamengo era português. Mas eu, com o meu queixo caído, começava a dizer: “Perdão, mas não vai dar pra torcer para o Flamengo”. Ao que eles responderam: “Ah… Mas quando você está fora do seu país é diferente. Quando você está longe, os sentimentos mudam”. 

Apesar de meu marido concentrar-se no jogo, de uma forma geral, o jantar transcorria bem até que o River Plate fez um gol. E então não sei explicar o que aconteceu.

Uma torcedora (nem tanto) convicta

Apesar da convicção de meu marido que seu time viraria o jogo e ganharia, foi crescendo dentro de mim um nervosismo que não sabia de onde vinha. Pra piorar a situação, ao olhar pra ele, vi um breve relance de frustração. E, em fração de segundos, pensei naqueles milhares de brasileiros que foram a Lima e em tantos outros que torciam não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. Assim,  sem querer querendo, sem que sequer percebesse, acabei soltando: “Fica tranquilo, meu amor, eu estou torcendo pelo Flamengo”.

Mal acabei de falar pensei: – “What!? O que é que você está falando? Estás louca?”. (Assim mesmo a misturar o inglês através do qual me comunicava, o português brasileiro entranhado em mim e o português de Portugal, que tenho ouvido diariamente por aqui).

Meu marido, por sua vez, no mesmo momento olhou para mim com os olhos cheios de ternura e disse: “Obrigado, meu amor, agora te amo ainda mais”.

O final do jogo todos sabem. O final da minha história, entretanto, foi regado de vinhos e sorrisos daqueles que estavam ao meu redor. Eu, por outro lado, não cheguei a sorrir, mas respirei aliviada: “Ufa, que bom que o Flamengo ganhou”. 

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

2 thoughts on “O dia em que torci pelo Flamengo

  • Flamengo ñ é só uma Rica freguesia em Açores Portugal, Reino Religião ou Linguá, ou aqui um Aterro, parque e praia… e sim um clube + antigo em atividade ”1895” da Âncora sagrada Azul e Amarela do bairro do Leblon… e q foi o segundo clube do mundo a usar o Rubro Negro em 1896, único e maior campeão em torneios, campeonatos e Copas Internacionais oficias no Rio de janeiro, soberano em vitórias, + ñ é isso q fez muitos o admirarem ou outros invejarem de até inventarem mentiras para desvalorizar seus feitos, foi um clube de muitos esportes feito dentro dele, e muito burguês até 1920, + que foi o primeiro abrir ás mulheres ainda no século 19, porém não aceitava trabalhadores pobres e mestiços até os anos 30, + mesmo assim ganharia a fama entre os populares de o + querido do país, + foi com a Hollywoodiana Carmem Miranda a maior atriz Luso Brasileira no exterior que o clube Ligado a Marinha ganhou fama antes das maiores conquistas nos anos 50,60 e 80, que antes de meios televisivos já lotava os pequenos estádios e o Maraca, não julgue o clube por ter uma pequena parte da torcida violenta só no RJ, pois ela é universal e 42 milhões mundo a fora, pq a do Vasco é muito + ligada a torcidas organizadas e funk como a ”banida” FJV violenta, não pq o estádio do vasco fica dentro da favela ou é ligado ao Funk por causa de Rômulo costa, taty quebra barraco e ZZ club, não, e sim pq tb tem mal educados como tb os organizados do Flamengo. Nossa história e símbolos são muito autênticos para serem generalizados a isso. Amei a Matéria .. saudações rubro negras.

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