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Nômades Digitais em quarentena

#olhabempqbemtem …Parar enquanto é tempo.

Quando saímos do Brasil em setembro de 2019 para assumir definitivamente a vida de nômades digitais, tínhamos dois pontos bem claros em nossas mentes.

Primeiro, combinamos que viajaríamos pelo tempo possível e enquanto tivéssemos vontade. Tínhamos alguns destinos em mente, mas estávamos abertos a oportunidades e a vontades de última hora. Porque não sabíamos se nossa vontade de viajar perduraria por muito tempo. Afinal, já não somos tão jovens assim e alguns planos como gravidez, por exemplo, ainda não foram descartados por completo.

Segundo, combinamos que, enquanto viajávamos, prepararíamos o território para, por fim, morar em Portugal. Regularizaríamos documentos, faríamos pesquisa de cidade e de mercado para buscar aquele lugar que nos ofereceria uma maior qualidade de vida e, que ao mesmo tempo, ganhasse nossa simpatia e coração. Porque não é fácil deixar o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, ainda que ela tenha muitos defeitos.

Pois então… Passamos por França, Alemanha e Áustria antes de chegarmos a Portugal. E, após dois meses em território lusitano, levantávamos voo novamente em direção a Alemanha, Espanha e a Itália. Nesses três países vivemos momentos intensos e felizes. Até que tivemos que voltar a Portugal para agilizarmos mais uma parte de nossa documentação de residência.

Foi bem na hora! O Corona vírus já estava por ali. Mas as autoridades ainda não tinham se dado conta do quanto ele estava circulando. Aliás, diferente do COVID-19, em meio a tantos projetos tirados do papel, quem circulou pouco fomos nós. E voltamos para Portugal com bastante saúde, antes que os dias na Itália ficassem sombrios e difíceis (Ainda bem que temos a Omnilife).

Nômades Digitais em quarentena

Ao longo dos seis meses que passaram, nossa vontade de viajar não se aplacou nem uma vez. Pensávamos apenas em ampliar nossa rota, bem como o tempo dedicado a cada lugar. Ah… Como é bom viajar! Era o que gostaríamos de continuar fazendo.

Portanto, após resolvermos algumas questões em Portugal, iríamos a Bilbau, norte da Espanha, para um evento da Omnilife e, em maio, quando toda a documentação já estivesse renovada, percorreríamos o sul da Espanha e da França, talvez com uma breve passagem por Marrocos e, depois, quem sabe, uma escapada até a Grécia e a Croácia para, por fim, visitarmos amigos queridos na Alemanha. Meus olhos brilhavam só de pensar nesse roteiro!

Mas aí o COVID-19 se espalhou, interrompendo nossos planos e sonhos. Convocando-nos a parar e refletir sobre nosso estilo de vida, sobre dividir, compartilhar, respeitar regras, respeitar o outro… Convidando-nos a empatia, ainda que esta esteja distante e precise ser virtual.

Em Portugal, como em todo mundo, os casos da doença crescem a cada dia. E em Braga, estamos tentando evitar o pior. Muitos adotaram a quarentena voluntária. As ruas estão desertas, os pontos turísticos estão fechados. Saímos de casa apenas para ir ao supermercado. E, neles, só entram 60 pessoas por vez. Eventos e festas também foram adiados ou cancelados. Os estragos serão imensos economicamente. Mas todos sabem que, se não for isso, muitos sofrerão e morrerão porque não há hospitais para todos os casos estimados.

As fronteiras estão se fechando. Já não dá mais para ir à Itália, nem a Espanha, nem a França, nem a Alemanha. Já não dá mais pra fazer Workaway. É mesmo hora de parar. E nós, nômades digitais, não temos casa para nos abrigar (pelo menos não permanente). Complicado, né?

Mudança de planos

Paradoxalmente, entretanto, viver em quarentena é relativamente fácil para nós. Já estamos habituados ao trabalho remoto, realizado em nossos computadores, diretamente do conforto de nossas casas provisórias. Infelizmente, não teremos mais o prazer de sair ao final do dia para admirar uma paisagem nova e experimentar uma cultura diferente da nossa. Parece que boa parte do mundo agora terá que experimentar um pouquinho da nossa rotina, sem, entretanto, poder aproveitar a melhor parte dela.

É. Acho que alguma coisa temos que aprender com tudo isso. O mundo não será o mesmo depois de todo esse esforço coletivo. Então é bom pensarmos juntos e mudarmos juntos também, enquanto agimos com responsabilidade.

De minha parte, posso afirmar que é uma tremenda aventura viver sem saber o dia de amanhã. Por certo que nunca sabemos. Mas, quando jogamos no time do planejamento, lidar com imprevistos como essa pandemia é bastante angustiante. Não há mais opções, há impedimentos reais.

Sempre que meu estômago revira com as incertezas, entretanto, lembro daquela tirinha do biscoito chinês que dizia: “A vida nunca poderá dar segurança, só pode prometer oportunidades”. Pois então, se é assim, qual a oportunidade que temos agora?

Pare. Fique em casa se você pode ficar. E pense. Mudar é preciso. Mas não por você, por todos nós.

Rachel Jaccoud Amaro

Trilha sonora deste post:
Terra de Gigantes – Engenheiros do Hawaii

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

2 thoughts on “Nômades Digitais em quarentena

  • Sandra Mendonça

    Tudo passa como já disseram, e isso também vai passar! Enquanto isso vamos nos conscientizando de qual o nosso papel dentro desse contexto… Difícil? Quarentena, sim! Mas é tempo de pensar, refletir e viver principalmente! Vivermos… é o que temos feito, e saiba teremos histórias pra contar um dia…
    Como todos os textos escritos por você, AMEI!
    E trilha sonora escolhida fechou muito bem! Tudo a ver! ♥️

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    • Oi, Sandra! Sim, é momento de refletir sobre o nosso papel em relação a tudo isso. Ao fim, com certeza restarão muitos aprendizados e histórias pra contar. Muito obrigada por registrar aqui seu comentário! =)

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