ComportamentoViagens

E aí… Virei babysitter!

#olhabempqbemtem em ser babysitter.

É curioso como a vida nos dá alguns presentes… Algumas agradáveis surpresas.

A verdade é que as coisas não aconteceram como esperávamos em Bacharach.

Nosso intuito ao escolhermos este Workaway era conhecer mais sobre a produção do vinho.  Especialmente porque o hábito de beber e apreciar vinhos foi algo que eu e o Felipe adquirimos juntos. Não era algo que eu fazia ou que ele fazia antes de nos conhecermos… Foi algo que aprendemos e vivenciamos aos poucos e cada vez mais.

Era sobre vinho que queríamos aprender. Sobre seu cultivo, sobre sua produção, sobre seus sabores.

Pela época do ano, viríamos para cá para a colheita das uvas. Sabemos que não é um trabalho nada fácil… Mas estávamos tão empolgados para fazê-lo…

Queríamos muito ter um vínculo maior com aquilo que a gente come e bebe… Saber da onde vem e ver o trabalho que dá… E, como contei neste post aqui, estava tão empolgada com minha última aventura na fazenda d’A Família Luft que queria mais… Mais terra, trabalho duro, suor…

Ah… As expectativas… Sempre elas as responsáveis pelas nossas frustrações.

Foi mesmo um banho de água fria! Quando chegamos em Bacharach, a colheita havia terminado. E isso, para os donos da vinícola, era muito bom, porque se tivesse demorado um pouco mais, as uvas já não poderiam ser utilizadas.

Nas videiras, o trabalho que restava a ser feito, foi aquele que o Felipe contou neste post aqui.

E, depois de terminado, as atenções foram voltadas para a reforma e restauração da adega, contada pelo Felipe aqui

E, a mim, não coube nada disso.

Melanie e Lorenzo, donos da vinícola, têm dois filhos: Lennard de 3 anos e Leo de 4 meses. A ajuda que eles precisavam naquele momento era que alguém tomasse conta de seus filhos, para que eles pudessem dar conta da produção dos vinhos e de todo o restante da administração de seus bens, terras e equipe.

Não é com qualquer um que a Melanie deixa seus mais preciosos bens. Ela me disse que ela procura sempre por alguém em quem eles confiem. E eu já havia percebido isso, porque quando chegamos lá, haviam outros workawayers e a nenhum deles tinha sido dada essa tarefa…

Mas aconteceu que, no primero momento em que o Leo olhou para mim, ele sorriu. Aquele sorriso doce, que nos faz desmanchar e baixar todas as nossas armas… Aquele  irresistível sorriso de criança…

Não foi a Melanie que me escolheu. Foi o Leo. E o que eu poderia fazer com isso? 

Foi com muita resistência que aceitei o trabalho. Não era o que eu queria, não era o que eu buscava. Meu primeiro sentimento foi de total revolta e negação.

Quem me conhece sabe… Eu jamais pensei em ser babysitter! Eu tenho muito medo de crianças. Medo de tê-las sob minha responsabilidade. Medo de não saber brincar com elas. Não tenho prática, nenhuma. E, ser mãe, é algo que tenho adiado já há algum tempo. Como ia me virar?

Eu já nasci velha. Minhas irmãs sabem disso. Com elas, ainda que a diferença de idade entre nós seja mínima, brinquei muito pouco. Sempre preferi a leitura, a conversa com adultos. Sempre dizia que queria crescer. E continuo achando muito melhor ser adulta.

O que seria de mim? O que seria das crianças? Tadinhas!?

Cuidar das crianças era uma das atividades possíveis, listadas no perfil da Melanie e do Lorenzo no Workaway. Mas em minhas piores previsões, caso isso acontecesse, o Felipe estaria comigo e ele é profissional nesse assunto! De crianças, de brincar, de imaginar, ele entende muito bem.

Nem em meus piores pesadelos eu teria que cuidar de duas crianças, que não são minhas, SOZINHA…

Os primeiros dias nesse trabalho foram de total angústia. Se fosse para cuidar de criança, eu não teria saído do Brasil… Ou mesmo de Munique. Afinal, nesses lugares tenho cinco sobrinhos lindos dos quais sinto falta todos os dias (e acabei de ganhar mais uma que ainda nem tive a felicidade de conhecer).

As horas não passavam. E eu me sentia super culpada a cada sorriso do Leo… Pensei em ir embora. Em pegar minhas coisas e partir para a próxima etapa. Mas não sou o tipo de pessoa que desiste dos desafios que a vida me impõe. E, comecei a entender que eu deveria aprender alguma coisa com aquilo. Se foi aquilo que me foi dado, era sobre isso que deveria aprender.

Aceitei. E aí, tudo mudou.

O Leo se acalmou. Ou melhor, ele sempre esteve bem… Ao ponto de fazer xixi na minha cara e cair na gargalhada durante uma troca de fraldas…

Então acho que o mais correto seria dizer que eu me acalmei. Aprendi seus hábitos. Aprendi a fazê-lo dormir. Aprendi a brincar com ele. Aprendi a amamenta-lo. E nunca imaginei que seria tão calmo, sereno e tranquilo cuidar de uma criança de 4 meses. Que anjo de menino…

Com o Lennard foi mais difícil. Nos primeiros dias, ele ficou muito pouco comigo. Acho que a Melanie levava-o com ela para que eu tivesse tempo para me adaptar… Mas quando ficava… Eu sentia a passagem de um tornado.

Lennard é um menino no auge da agitação dos três anos de idade. Tudo o que ele quer é brincar, brincar sem parar. De preferência, com companhia. Com atenção.

Lennard é um menino extremamente inteligente. Por ter um pai italiano, uma mãe alemã e, desde cedo, receber visitantes que estão sempre falando em inglês, ele aprendeu a se comunicar nas três línguas. Com facilidade. Como se as três fossem sua língua materna.

Lennard é um menino extremamente criativo. Ele até tem muitos brinquedos. Mas ele acha mais legal brincar com qualquer coisa que ele vê pela frente, usando sua imaginação… A impressora vira um estacionamento para seus carros; uma caixa de madeira vira um container para barcos; uma tampa de panela, vira um volante. Ele faz sons enquanto brinca. Ele adora máquinas e sabe os nomes de todos os tipos de tratores, caminhões, guindastes… Coisas que eu nunca ouvi falar! Nem mesmo em português.

Quando se unia ao Felipe, meu marido profissional no assunto, era uma festa! Difícil saber quem era mais criança… O brilho nos olhos de Lennard era incrível!

Assim, aos poucos, Lennard me ensinou a brincar.

Juntos, nós construímos o imenso carro que vocês podem ver na foto em destaque! (Não, não é um trem. É um carro após uma ida ao supermercado!)

Com ele, eu fui princesa. E ganhei duas rosas por causa disso! Com ele, eu fui bruxa… A bruxa da “cosquinha”! rs E fazer e receber “cosquinha” foi algo que tive o prazer de ensinar a ele… (E ele aprendeu a palavra “cosquinha” mesmo, porque eu não lembrava como se dizia cócegas em inglês).

O Lennard me levou para colher uvas, mesmo sem saber que era isso que eu queria desde o início. Tudo com seu poder de imaginação.

Ah… Lennard. Ele chorou tanto quando nos despedimos. E, sua ausência causou um verdadeiro rombo no meu coração… Sentirei tanto a sua falta…

E pedirei a Deus todos os dias para que as constantes despedidas pelas quais você passará, não enrijessam seu coração, não tire o brilho dos seus olhos e a sua imensa capacidade de dar amor e atenção àqueles que os cercam.

Ter a oportunidade de cuidar de Leo e de Lennard foi uma agradabilíssima surpresa… Por terem me escolhido, por terem confiado em mim, agora sinto-me muito mais capaz de ser mãe. E, sem dúvida, serei uma tia muito melhor para os meus sobrinhos.

É como dizem… Às vezes, os desafios e as dificuldades são, na verdade, bençãos disfarçadas… Isso é uma grande verdade.

Muito obrigada, Leo e Lennard, por sua generosidade, confiança e companhia. Levarei vocês sempre comigo, em meu coração.

 

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

 

Trilha sonora deste post:

Skidamarink (Puppet Version) – Super Simple Songs

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

9 thoughts on “E aí… Virei babysitter!

  • Dirceu Amaro Júnior

    Uma verdade inspiradora: problemas e adversidades podem tornar-se de fato bençãos disfarçadas. Nunca devemos nos precipitar em julgar de antemão uma situação. Adiante colheremos frutos imprevisíveis, normalmente cheios de surpresas boas. Parabéns pelo texto. Pelos textos que tantos nos inspiram…

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    • olhabempqbemtem

      Sim… Nunca é bom agirmos de forma precipitada. Fiquei feliz por ter aguardado e superado! E fico muito feliz também que esteja gostando dos textos!

      Resposta
  • Rosangela Bandeira

    “Às vezes, os desafios e as dificuldades são, na verdade, bençãos disfarçadas… Isso é uma grande verdade.”
    Lembra que você não gostava de iconografia e quando apresentei a coleção Reis Carvalho a você, você ficou com olhar de decepção e me confidenciou que não gostava de icografia, preferia a escrita.pois bem mocinha, depois de muitas pesquisas sobre o artista e suas obras, além de tirar 10 no trabalho entregue a José Murilo de Carvalho foi convidada por esse ilustre professor a transformar o trabalho num artigo para ser publicado na Revista da Biblioteca Nacional, onde só mestres e doutores escreviam e você na época era graduanda do curso de História da UERJ/RJ.
    Tenho um imenso orgulho de você e você sabe disso.
    Saudades!
    Super beijo e muitos muitos muitos passeios gostosos com Felipe.
    Aprenda sempre a tirar algum proveito dos medos, do desconhecido.
    Amo você!

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    • olhabempqbemtem

      Lembro disso muito bem, Rós! E hoje não me imagino estudando nada que não esteja relacionado a arte e a iconografia! Muito obrigada por sua confiança em mim e por tantos aprendizados. Muitas saudades!!

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  • Aldilene César

    Belíssimo texto, Rachel, parabéns!

    Inspirador, sem dúvida, para olhar com outros olhos futuros desafios que, a primeira vista, nos pareçam assustadores.

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    • olhabempqbemtem

      Obrigada, Aldi! Sim, é importante não desistirmos só porque tudo ficou um pouco mais difícil! =)

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