Comportamento

Pedido de ajuda

#olhabempqbemtem em pedir ajuda e em oferecer ajuda.

Pessoa difícil ou desconfiada?

Guardo até hoje o meu boletim escolar da 3a série do Ensino Fundamental. Naquela época, não importava apenas as notas de minhas provas, nas quais sempre me saía muito bem. Eu era avaliada também por comportamento, em uma série de tópicos que ajudavam meus pais a acompanhar meu desenvolvimento.

Guardei este boletim por anos em minha caixinha de recordações, inicialmente porque tinha orgulho de minhas notas. Ao revê-lo, anos mais tarde, o orgulho dissipou-se porque outra coisa me chamara mais atenção. De fato, estava ali uma constelação de conceitos altos. Mas dois deles eram exceção: eu era regular em “Relacionamento com os colegas” e em “Colaboração com os colegas”.

A partir de então, continuei guardando o meu boletim. Mas não mais por orgulho, e sim, como lembrança de um de meus piores defeitos e, como gostam de dizer alguns, pela “oportunidade de melhoria”.

Ao lembrar de minha vida escolar, percebo que demorei anos para encontrar amigos que sabiam trabalhar comigo (ou que a metida aqui julgasse que fossem bons o suficiente para trabalharem comigo). Na maioria das vezes, trabalhar em grupo era um problema! Eu sempre achava que as pessoas não faziam nada, e que eu tinha que fazer tudo sozinha.

Olhando para trás, com a maturidade que tenho hoje, penso que talvez não fossem eles que não quisessem trabalhar. O problema é que eu não deixava que eles fizessem do jeito deles.

Pessoa orgulhosa ou autossuficiente?

Uma querida amiga de trabalho com quem fiz uma linda parceria na última empresa que trabalhei, diria que, muito provavelmente era eu quem não deixava eles trabalharem. Ao trabalhar comigo, ela me fez enxergar que muitas vezes o problema estava justamente no fato de eu querer controlar tudo e todos. Em vez de pedir ajuda e contar com ela, eu tomava tudo para mim. Não confiava, não delegava, não acreditava que ela ou outros poderiam me ajudar.

Bons tempos estes ao lado desta amiga que tanto me ensinou e que por tantas vezes me chamou a atenção! Essa lição eu aprendi. Não sou mesma boa em dividir tarefas. Não sou boa em pedir ajuda.
E, exatamente por isso, para mim é muito importante ter ao meu lado pessoas que saibam pedir e peçam ajuda.

Se eu tiver que escolher, vou sempre escolher me virar sozinha. Eu quero sempre fazer o que tenho que fazer sozinha e resolver sem a ajuda de ninguém. Adoro ser autodidata. Ser autossuficiente é um sonho! São características que admiro e que busco para mim.

É talvez por isso que me encanta tanto a história da Família Luft. É talvez por isso que eu esteja sempre interessada em aprender novas atividades, assuntos, técnicas, profissões. Uma hora historiadora, outra hora administradora, outra hora fotógrafa, outra hora designer. Tudo não é o bastante! Não basta contratar alguém para fazer. Eu quero saber fazer. Eu quero entender várias línguas, quero prender quadros na parede sozinha. Mas onde é que isso vai dar?

Pedido de ajuda

Ser completamente autossuficiente é uma ilusão. Somos seres sociais, que vivem em sociedade, que devem e precisam se ajudar. Muitos filósofos e sociólogos já discutiram isso e não pretendo entrar nesse mérito.

Tudo o que sei é que já caí de uma escada por não pedir ajuda. Já quase estraguei um rack novo por tentar montá-lo sozinha. Já perdi minutos preciosos em viagens e em supermercados porque não quis pedir informações para terceiros. Já perdi prazos. Já falhei inúmeras vezes por não pedir ajuda, mesmo sabendo que, se pedisse, a teria.

Felizmente, casei com alguém que sabe pedir e que pede ajuda. Em primeiro lugar, ele pede ajuda a mim. E é muito bom ter a certeza de que ele sabe que pode contar comigo.

Em segundo lugar, ele acredita muito nas pessoas (muito mais do que eu). Por isso, quando precisa, pede ajuda a seus amigos e familiares com bastante clareza (dizendo exatamente o que precisa). E ele o faz porque ele é o primeiro a oferecer ajuda a qualquer pessoa, ainda que não a possa dar! E ele faz de coração. Ele acha isso normal.

Engraçado… É mesmo um otimista nato! Por mais que as pessoas ajudem, eu, por outro lado, estou sempre achando que ninguém ajudará! (Ainda não aprendi!). A realidade está sempre no meio de nós dois. Eu me surpreendo bastante com a ajuda das pessoas, tanto quanto ele se surpreende com a falta de ajuda das pessoas.

Ofereça ajuda

Se você tem acompanhado nossos textos, sabe que nos últimos dias temos passado por muitas dificuldades relacionadas a saúde de meu sogro. Já falei sobre isso em Na saúde e na doença e Na alegria e na tristeza.

Recentemente, tivemos que fazer a mudança de meus sogros da cidade de São Pedro da Aldeia para o Rio de Janeiro. Com a saúde debilitada, é importante que eles estejam perto de nós, para que possamos ajudá-los o mais rápido possível, sempre que necessário.

Pagar uma empresa de mudança não era uma opção financeiramente viável. Meu marido, portanto, resolveu que ele mesmo faria a mudança dos pais dele. Pediu e ganhou a ajuda de um amigo que tem um caminhão. Pediu e ganhou a ajuda de um amigo que mora em São Pedro da Aldeia. Pediu e ganhou a minha ajuda.

Tem sido um processo bastante difícil. Falaremos mais dele em outro post. Aqui, entretanto, fica destacado que, apesar de não termos pedido ajuda a mais ninguém, quando contamos os desafios a familiares e amigos, alguns ofereceram ajuda. E, a verdade, é que nos surpreendemos com quem ofereceu ajuda! (E com quem não ofereceu também!)

Esse episódio me fez pensar em algo muito importante. Quantas pessoas próximas a mim sabem que podem contar comigo quando precisarem? E se elas forem como eu, que não gosta de pedir ajuda? Elas correm o risco de precisarem e não terem a minha ajuda porque eu não ofereci ajuda? Elas correm o risco de se sentirem tão isoladas a ponto de acreditarem que não podem contar com ninguém em casos extremos?

Devemos, sim, pedir ajuda. Devemos, sim, oferecer ajuda, mesmo quando ela parece ser absolutamente desnecessária. Mesmo quando lhe parece óbvio que você ajudaria… Pode não ser tão óbvio para a pessoa de quem você gosta!

É uma forma eficiente e clara de dizer que nos importamos com alguém; uma forma bonita de dizer às pessoas que elas podem contar conosco. E, claro, fará BEM a todos!
Àqueles que nos ofereceram ajuda, nosso muito obrigado. Àqueles que precisam de ajuda, saibam que podem contar conosco.

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

4 thoughts on “Pedido de ajuda

  • Achei o texto sensacional. Pena hoje em dia, com tudo que vivemos, as pessoas não oferecerem ajuda e aquelas que pedem, muitas vezes são mal interpretadas. Estamos hoje muito preocupados com cargos e salários, status, quantos seguidores temos e tal, e esquecemos do mais importante, O HUMANO!! Parabéns a vcs dois pela página, sou leitor e fã de vcs!!

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    • Pois é, Oacyr! Tenho essa mesma opinião… Muito obrigada por seu comentário e apoio ao nosso projeto! =)

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  • Luana Ribeiro

    Olá, Rachel! Que bacana seu texto. Me identifiquei bastante. Sei bem como é ser autodidata, tento ser quase todo o tempo. Meu lema é “ser independente”, cresci assim. Minha mãe me ensinou a “super independência”. Mesmo eu sabendo que não tenho força, tamanho e nem conhecimento suficiente para me virar sozinha em certas coisas. Foram anos de terapia para entender que preciso aprender a delegar tarefas. Tenho aprendido aos poucos. É difícil deixar para o outro fazer algo que você acha que faria melhor do seu jeito. Te entendo bem. Ainda tenho dificuldade em pedir ajuda, principalmente, porque para mim o outro precisa perceber e oferecer a ajuda. “Ele não está vendo? Eu preciso falar?!” Mas parece que sim, eu preciso falar quando preciso de ajuda. Como disse, estou nesse processo de aprendizagem também. E que possamos aprender cada vez mais que não precisamos resolver tudo sozinhos. Uma mão lava outra, não é mesmo?! Parabéns pelo trabalho! Abraços!

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    • Somos muito parecidas mesmo nesse quesito, sim, Luana! Eu também acho que se a pessoa está vendo, ela deveria oferecer… Mas às vezes ela está preocupada com suas próprias questões e simplesmente não percebe… Ou pode acontecer também dela nem ver, está distante do processo mas, se for acionada, se ela ouvir um pedido, ela correrá para ajudar. Enfim… Para nós é mesmo um aprendizado. E não é fácil!

      Muito obrigada por seu comentário e por compartilhar sua experiência aqui com todos nós! Beijos!

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