O que te faz falta? (Ou #Desapego – parte 4)
O que te faz falta? Vivemos dias de restrições. Dias em que não podemos usufruir de nosso direito de ir e vir, seja por lei, seja por responsabilidade ou até mesmo por medo. E viver momentos assim são particularmente bons para nos mostrarem quais são nossas reais prioridades ou ainda, o que nos faz falta, de fato.
A Dieta Dukan
A primeira vez que me dei conta disso foi em 2014, quando fiz uma dieta super restritiva chamada Dukan (carinhosamente apelidada de “Dieta du cão”). Você já deve ter ouvido falar… Essa dieta tem ingestão de carboidratos e gorduras bem controlada. E, uma vez por semana, eu tinha direito a fazer uma refeição lixo. Ah… As refeições lixo… Nós as chamávamos de “jantar de gala” e são as minhas melhores recordações dessa época! 😂😂
Eu, de fato, emagreci muito. Se bem que com muito mal humor… E depois engordei novamente. (Não recomendo Dukan a ninguém). Mas aquela dieta, especificamente, me ensinou algo que outras não tinham me ensinado até então: comecei a entender o que realmente me fazia falta, pelo menos em termos de comida.
Dei-me conta que dispensar o arroz não era problema. Mas ficar sem feijão era difícil. Percebi que também poderia ficar sem batata. Ainda que ela fizesse falta em alguns pratos, em outros ela era perfeitamente substituível… Percebi que gostava mais de pão do que de doces, que gostava mais de peixe do que de carne. Enfim… A dieta Dukan foi mesmo um momento de autoconhecimento poderoso, um aprendizado sobre quais eram minhas prioridades, do que eu realmente gostava.
A quarentena em meio a uma Pandemia
Aquela velha máxima faz muito sentido: muitas vezes só damos valor a algo (ou a alguém) quando o perdemos… Pois agora que já perdemos muito e ganhamos coisas que talvez nem tenhamos pedido, chegou a hora de mais uma vez refletir. O que tem me feito falta? Qual ausência dói mais? Que coisas nem lembro que existiam, mas que eu fazia com frequência, por simples força do hábito? O que vou fazer, tão logo seja possível? Que hábitos valem a pena ser retomados e quais poderão ser deixados para trás? Você já parou para pensar sobre isso?
Aquilo que me faz falta
Eu sinto falta do mar… Do seu som, do bater das ondas, do cheiro de maresia. Anseio por admirar mais um Pôr do sol na Pedra do Arpoador, no meu Rio de Janeiro, tão logo seja possível. (E olha que eu não sou de ir a praia!). Sinto falta do tom de amarelo que só o Rio tem.
Tenho saudade do verde das montanhas e do azul do céu. Sinto falta do vento batendo no meu rosto e de paisagens estonteantes como as que vi e vivi em novembro e dezembro, na Quinta do Vilar e na Quinta da Portela.
Eu sinto falta de viajar. Sim, estava viajando logo ali, em fevereiro. Mas é meu estilo de vida. Viajar é uma prioridade e uma necessidade para mim. Sinto muita falta. Dos novos lugares, das novas pessoas, das diferentes línguas e formas de viver.
Morro de saudade dos meus pais, das minhas irmãs, dos meus sobrinhos. De abraçar, de sentir o cheiro, de tocar. Mas, mais do que tudo, dói sentir a falta do colo da minha mãe. Da sua mão fazendo carinho na minha cabeça, do aconchego dos seus braços, da certeza de sua proteção.
Eu até sinto falta de frequentar restaurantes, mas não tanto quanto achei que sentiria. Fiz as pazes com uma arte que, por causa de traumas passados, havia abandonado: a arte de cozinhar. Eu até sinto falta de fotografar… Mas não como no mês passado. E, sim, como antigamente na época das 36 poses: com mais pensar, com a reflexão sobre valer a pena queimar o filme ou não.
Mudanças de hábitos
Eu não sinto falta do calor do Rio de Janeiro, do barulho nas ruas, dos centros lotados, dos burburinhos, dos excessos, dos mimos descontrolados aos quais fomos lançados nos últimos anos.
É… eu não sinto falta da poluição auditiva, olfativa e visual. Eu não sinto falta das lojas e dos shoppings centers.
Mas sabe… Há tempos penso que não estava certa a maneira como vivíamos. O consumo passou a ser um péssimo hábito, impensado e incoerente. E não a toa já venho trabalhando o desapego há um bom tempo. Tudo que acontece agora no mundo, neste momento, só valida meus sentimentos descritos em #Desapego parte 1, parte 2 e parte 3.
É hora do mundo mudar. Aliás, já passou da hora! E, parte de mim, está feliz em ver que isso pode acontecer: não porque as pessoas ficaram boas de repente. Mas porque será necessário. No susto. Na marra. Se a vida é um jogo, nós mudamos de fase. E precisaremos desapegar da fase anterior.
A natureza tem agradecido a quarentena dos seres humanos. Tem finalmente respirado e se recuperado de nossos exageros, agitação e desrespeito. Para muitos cidadãos comuns, a solução para o mundo estava nas mãos dos grandes líderes do planeta, nas mãos daqueles que chegaram ao topo do poder e só se importam, realmente, se permanecerão nele. Mas isso não é verdade agora. Nem nunca foi. Qualquer mudança deve começar primeiro em nós mesmos. Cada um de nós pode diminuir o consumo, os deslocamentos, o lixo. Temos, sim, o poder de fazer a diferença. O resultado está aí, com os canais de Veneza e a Baía de Guanabara mais limpos.
Um apelo
Você está ansioso para a vida voltar ao normal? O que você vai fazer quando tudo isso passar? Tem certeza que não quer aproveitar para mudar aquilo que já não estava bom antes? Não perca a oportunidade de reflexão que estamos vivendo. Sei que os desafios são muitos, mas não seremos os mesmos depois de tudo isso. E precisamos saber onde é que vamos querer chegar.
Lindo! Sem dúvida jamais seremos os mesmos! Estou revendo muita coisa na minha vida!
Que bom saber disso, Rê! Reveja, sim, mas sem medo. Sairemos mais fortes e, se Deus quiser, mais felizes de tudo isso. <3
Eu gostava de cozinhar mas hoje gosto mais apesar de ter a necessidade diária… não sou muito criativa mas até o arroz com feijão faço com mais carinho do que antes…
As idas aos shoppings com certeza diminuirão e a minha maior saudade depois de vcs tb é o cheiro do mar.
Vou amar comer esse arroz com feijão cheio de carinho quando tudo isso passar! Obrigada por registrar seu comentário aqui, Rô. Saudade que não cabe no peito! <3
Eu sinto falta dos abraços.
Sinto falta da mesa grande da varanda cheia da minha gente. O barulho das conversas, das risadas e das brincadeiras das crianças.
Eu também sinto muita falta de tudo isso, Eliete. Obrigada por deixar aqui registrado. <3
Ah, que grande peça esse vírus nos pregou não é mesmo? O que eu mais sinto falta é de estar com a minha família… Mãe, tia, avô… É muito estranho não vê-los ao menos uma vez por semana como costumava fazer. Percebi também que não sinto tanta falta de shoppings e restaurantes. Sobrevivo bem sem eles rs
Pois é, Luana… Quando tudo passar, algumas coisas terão um sabor ainda melhor depois de toda essa reflexão. Outras, por não serem tão importantes, talvez nem façam mais parte de nossas vidas. Boas mudanças virão por aí. Muito obrigado por seu comentário. =)