O renascer das oliveiras (ou A Quinta da Portela – parte 3)

Retorno à Quinta da Portela

Nós já sabíamos que tudo estaria diferente. Quando deixamos a Quinta da Portela a dois anos atrás, tínhamos nos comprometido a voltar porque, afinal, havíamos encontrado bons amigos em Hannie e José.

Desde então, acompanhávamos as belas postagens de Hannie no Facebook. Sabíamos, portanto, que as flores voltaram a brotar e os pássaros a cantar naquelas terras que haviam sido devastadas pelo fogo em 2017.

→ Leia nossas primeiras experiências sobre a Quinta da Portela aqui e aqui.

Conforme nos aproximávamos daquele lugar que havia conquistado nossos corações, víamos o quanto essa recuperação era verdadeira! Tudo estava verde, os pinheiros balançavam, o ar estava puro. A natureza mais uma vez havia sobrevivido à insensatez humana. Que maravilha!

Portanto, foi uma alegria imensa voltar! Os pinheiros que havíamos plantado em 2017 estavam firmes, fortes e crescendo. Joy, Max e Spike, os três cachorrinhos de Hannie e José pareciam comemorar nossa chegada. E nossos amigos nos receberam de braços abertos, com um sorriso no rosto, um café acolhedor e um jantar maravilhoso.

“Não é fácil ter uma Quinta…”

Os dias seguiram com trabalho duro e doído. É que haviam mais árvores para cortar! Há dois anos, quatro antigos e grandes pinheiros haviam ficado de pé e achávamos que iriam se recuperar. Mas não se recuperaram. Estavam mortos e agora ameaçavam cair em cima da principal casa da Quinta da Portela.

Mais “trabalho sujo” então precisava ser feito, ainda que doesse em todos nós. E o Sr. José todos os dias nos perguntava: – Queres comprar uma Quinta? Ah… Nossa vida não é fácil… É, Sr. José, a vida não é fácil. Mas ela fica melhor quando trabalhamos juntos, com cumplicidade, em prol de algo melhor e maior. A vida não é nada fácil, mas é sempre uma alegria trabalhar ao lado de José e Hannie naquele pequeno paraíso chamado Quinta da Portela.

Enquanto os homens cuidavam das toras de madeira mais pesadas, Hannie mostrava-me o terreno e tudo o que já havia sido feito e ainda teriam que fazer! Corta daqui, arruma dali. Poda acolá, cresce erva daninha de cá. – Mas como dá trabalho! – dizia ela. Um trabalho sem fim, que o fogo destruiu em minutos, abatendo muito ânimo de nossos amigos.

Eu compreendia todo o pesar. Mas olhava para tudo e para cada cantinho maravilhada! Porque mesmo com todos os problemas, era possível ver todos os dias o cuidado de Deus e da natureza para com aquele lugar. E, para mim, o melhor exemplo deste cuidado foi o renascer das oliveiras.

O renascer das oliveiras

Há 2 anos, José e Hannie acharam que ficariam pelo menos 5 anos sem produzir azeite. Mas em 2019 o azeite já pode ser produzido novamente. As oliveiras que não haviam sido atingidas pelo fogo frutificaram abundantemente. E as demais estavam se recuperando rapidamente.

Em 2017, cinco oliveiras que estavam mais próximas do terreno abandonado do vizinho ficaram completamente carbonizadas pelo incêndio. Completamente pretas e sem vida. É que o terreno vizinho é bastante abandonado e, por não ser cuidado e limpo, acaba sendo mais fácil para o fogo se alastrar.

Naquela ocasião, eu olhava para essas oliveiras e não via como elas poderiam se recuperar. No entanto, elas não foram derrubadas. Foram mantidas. A estratégia adotada foi simplesmente deixá-las ali, quietas. – Vamos esperar e ver o que acontece.

E aconteceu. As oliveiras renasceram.

Ao redor dos troncos carbonizados, muitas ramas novas cresceram e pareciam dizer: – Aqui temos uma oliveira. Deixe-nos. Porque aqui sempre seremos uma oliveira.

Agora, os troncos queimados precisavam de fato serem cortados para que as ramas pequenas pudessem crescer com mais força e tomar o local da velha oliveira. Foi-se embora o velho tronco. Também podamos as ramas menores. E escolhemos quatro mais fortes para que permanecessem em constante crescimento.

A cada ramo podado eu ficava maravilhada. Como é perfeita a natureza, eu pensava. Quanta renovação, quanta recuperação, quanto aprendizado eu tirava daquele momento.

Se as oliveiras podem renascer das cinzas, talvez você também possa.

Passei a minha infância ouvindo e lendo as palavras de Jesus Cristo sobre o cuidado de Deus para com os pássaros e os lírios do campo (Mateus 6, 25-34). Mas ver isso acontecer com seus próprios olhos, longe dos bancos da igreja, é muito diferente. Fortalece-nos. Inspira-nos a continuar. Mostra-nos que realmente não controlamos nada (e nem precisamos controlar). Afinal, há cuidado vindo de onde a gente nem imagina ou espera. Faz-me pensar que se uma oliveira destruída pelo fogo pode renascer das cinzas, então eu também posso me reerguer quando cair.

Com essa história, não quero dizer que basta cruzar os braços e não fazer nada. De forma alguma. Sr. José e Hannie ainda terão muito trabalho até que aquelas cinco oliveiras comecem a frutificar novamente. Por um tempo, entretanto, bastou esperar, observar, acreditar que isso era possível.

Sua semana começou mal? Não param de chegar notícias ruins de todo canto do mundo? Nosso país não parece andar pra frente? Lembre-se que de alguma forma a vida encontra uma forma de seguir seu fluxo. E se você não pode acreditar que é Deus cuidando de nós, pelo menos lembre-se que se as oliveiras podem ressurgir das cinzas (isso é fato), possivelmente, você pode também.

Rachel Jaccoud Amaro

Trilha sonora deste post:
Galhos Secos – Catedral

P.S. Na imagem em destaque, vemos as cinco oliveiras antes da poda. Com as ramas novas ao redor do velho tronco central carbonizado desde 2017. Ao fundo, há muitas árvores queimadas ainda, todas no terreno vizinho abandonado.