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A Quinta da Portela

#olhabempqbemtem …Quando você conhece alguém há 5 minutos, mas parece que conhece a vida toda…

Pois é… Foi isso que aconteceu por aqui… Aconteceu em Portugal (com o país, como contamos nesse texto aqui) e aconteceu na Quinta da Portela.

Quando descobri o que era o Workaway e comecei a olhar sua lista de hosts (hospedeiros), dois me chamaram muita atenção e não me saíam da cabeça. O primeiro era o d’A Família Luft. O segundo, era o de “José e Janine”.

O motivo era que, nos dois casos, havia mais do que um simples pedido de ajuda. Por trás das palavras escritas, havia orgulho e amor pelo estilo de vida que eles tinham escolhido para si. Eram pessoas assim que eu queria conhecer: que estivessem realmente motivadas por suas próprias vidas, por suas próprias escolhas.

Mas “José e Janine” não precisavam de ajuda quando planejamos nossa viagem. Aí fomos para a Alemanha, para a fazenda Luft… E traçamos nosso roteiro começando por lá.

Da fazenda Luft, fomos para a vinícola em Bacharach. De Bacharach, íamos para uma casa na Normandia… Mas, neste último caso, quando entramos novamente em contato para confirmar as datas, a  casa tinha sido vendida e eles não poderiam mais nos receber lá.

Ah… Novamente os imprevistos, as expectativas frustradas e as agradáveis surpresas… Muitas vezes é esse trio o responsável pelas melhores coisas da vida.

Mudanças de planos…

Cansados de falar inglês e, no meu caso, de tentar entender alemão, começamos a pesquisar passagens aéreas para Portugal. Achamos passagens por 17 euros! E, pra mim, isso era um sinal de que devíamos ir!

Calculei a viabilidade financeira dessa nova etapa… Com algum esforço, dava… E aí entrei no Workaway pra visitar novamente o perfil de “José e Janine”, pois não tinha como me esquecer deles.

Estava lá! Um casal de aposentados holandeses que há 15 anos se apaixonaram por Portugal e pela simpatia e receptividade dos portugueses. Compraram uma quinta, e se mudaram definitivamente para o país.

Ao longo dos anos, eles se empenharam para que sua quinta se tornasse “um pequeno paraíso” (era o que eles diziam)… Além disso tudo, eles produziam azeite. E, agora eles estavam precisando de ajuda para a colheita de azeitonas.

Então enviamos uma mensagem pra eles e eu aguardei ansiosa pela resposta. Queria tanto conhecê-los!

Dois dias depois, a resposta veio e foi positiva. Passaríamos 10 dias na Quinta da Portela, colhendo azeitonas no pequeno paraíso construído por “José e Janine”.

Oba! Dei meus pulinhos de alegria e já não via a hora do dia chegar… (Sim, sou muito ansiosa e por isso estou sempre a frente… É preciso muita concentração pra evitar excessos e voltar ao tempo presente).

E aí… Mais um imprevisto…

Poucos dias depois, talvez uma ou duas semanas, meus ouvidos captaram na rádio alemã que algo muito grave tinha acontecido na região central de Portugal.

Fui pesquisar sobre o assunto e um grupo de amigas já comentava sobre o tema no Whatsapp. Havia ocorrido um grande incêndio, causado pela seca que há meses assolava a região. Para piorar a situação, o incêndio havia sido agravado por um vento forte que formou um raro e devastador “tornado de fogo”.

Só a chuva que caiu nos dias que se seguiram conseguiu controlar essa tragédia… Mesmo assim, após fazer um grande estrago na região! – Meus Deus! Que região é essa? – pensei…

Com a ajuda do Google Mapas, verifiquei que o tornado passara a apenas 30km da Quinta de “José e Janine”! Rapidamente enviamos uma mensagem para eles:

“Olá, José e Janine! Vocês estão bem? Vimos as notícias sobre os incêndios em Portugal e percebemos que foi bem próximo daí, não é? Ficamos preocupados. Se pudermos fazer algo para ajudá-los, por favor nos avisem!”

Dias depois, a resposta:

“Olá. Esta é uma coisa muito triste… Mas vocês são bem vindos para ajudar. Temos bastante trabalho em volta da casa. E vocês podem dormir em um quarto privado. Ainda não temos Wi-Fi e não temos luz. Por isso é complicado nos comunicarmos. Mas você são bem vindos. Um abraço”.

Sem luz e sem internet seria bastante complicado. Desistiríamos? Não. Vamos lá… Lógico que vamos. Agora, mais do que antes, eles precisam de nós… Provavelmente, não colheremos azeitonas, assim como não colhemos uvas… Mas vamos!

E que bom que viemos…

Pela resposta deles, não dava pra saber o quanto eles tinham sido atingidos… Chegamos a noite, após alguns outros imprevistos… E, no ar, conforme nos aproximávamos, sentíamos que as árvores a nossa volta não estavam sadias… Havia algo fúnebre ao redor.

Encontramos a Quinta da Portela em meio à escuridão… Ela fica em uma região afastada, e a casa de José e Janine era um pequeno ponto de luz.

Que gostosa recepção. Eles pareciam felizes em nos ver… S. José é dono de um imenso senso de humor. Janine tem um sorriso doce e um olhar acolhedor.

Eles estavam passando por um momento muito difícil. Nós não podíamos ver, mas, segundo eles, o paraíso que haviam construído estava todo destruído.

A casa de madeira que nos serviria de morada, tinha sido engolida pelo fogo… Justo a casa que havia servido de abrigo a eles, assim que aqui chegaram.

Mas, segundo eles, teríamos nossa privacidade. Eles haviam arrumado para nós a casa que costumam alugar no verão…

E que casa! Daquelas que vemos nos filmes, com uma janela enorme voltada para a quinta… Mas com o conforto e aconchego de uma casa de vó…

Fomos dormir felizes porque era como se tivéssemos chegado na casa de parentes queridos que moram distante.

Em nossa oração, um agradecimento e o pedido de que fôssemos de real ajuda para esse casal.

 

Ao amanhecer, a luz que refletia na janela me fez correr até ela… Finalmente eu veria a Quinta da Portela!

Um nascer do sol estonteante, sendo observado pela lua, que aqui em Portugal permanece no céu por toda a manhã…

Sim, estava quase tudo queimado. E mesmo assim era lindo. Ainda era um pequeno paraíso.

Os dias aqui prometiam… E eu desejava que eles fossem realmente abençoados… Teríamos, sem dúvida, mais histórias para contar.

 

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

3 thoughts on “A Quinta da Portela

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