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A Quinta da Portela (parte 2)

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. (Antoine de Saint-Exupéry – O Pequeno Príncipe)

Há pouco mais de dez dias chegávamos na Quinta Portela… Hoje, foi com os olhos cheios de lágrimas que nos despedimos de “José e Janine”.

Como falamos anteriormente aqui, no dia em que chegamos, adormecemos com muita vontade de saber como estava o local que nos cercava. A luz no dia seguinte revelou o resultado de momentos de desespero e de aflição. O fogo ardera por toda a região, há apenas duas semanas antes de nossa chegada.

À nossa frente, rastros negros da queimada. No solo e nas árvores, predominava cinza e preto. Restava muito pouco verde… E o mesmo acontecia nas serras que cresciam no horizonte.

Tudo aquilo serviu para aumentar ainda mais nossa vontade de ajudar…

Ali, certamente não colheríamos azeitonas e não faríamos azeite como havíamos imaginado… Mas tínhamos certeza de que este seria apenas um detalhe… Assim como nas experiências anteriores, nossas  “colheitas” e “aprendizagens” seriam ainda maiores.

Curiosamente, faríamos o mesmo trabalho que havíamos planejado fazer na Normandia: cortaríamos lenha. Mas não era qualquer lenha…

Na verdade, o trabalho que precisava ser feito era muito triste: derrubar e cortas as inúmeras árvores já mortas pelo fogo. Nelas não brotariam mais folhas, flores e frutos. Restavam apenas troncos enegrecidos, quase vazios de seiva.

Era importante executar essa tarefa o mais rápido possível porque as chuvas ainda não tinham sido suficientes… O risco de incêndio ainda era muito alto. E, caso novos incêndios ocorressem, era importante que o terreno estivesse limpo para que o fogo não se espalhasse como aconteceu da outra vez.

A cena era desoladora. Felizmente a casa deles havia escapado do incêndio… Mas isso não os animava. “José e Janine” eram apenas suspiros… Olhar triste. Respiração lenta. Cansaço.

Eles mesmos haviam plantado muitas das árvores que precisavam ser derrubadas. Outras, já estavam ali antes… Há tanto tempo… Dava pra sentir a dor no coração deles. Pelo olhar…

Precisávamos trazer algum BEM para a rotina de “José e Janine” que, nas últimas semanas, haviam passado seus dias limpando toda a destruição causada pelo fogo… Será que conseguiríamos?

As horas passavam e nossa vontade de ajudar aumentava. Queríamos fazer mais, ajudar mais… E assim foi.

Mas não ajudamos com mais trabalho, nem com mais dedicação. Ajudamos com cumplicidade.

Conforme as horas passavam, entendíamos ainda mais a aflição dessas duas pessoas maravilhosas e cheias de força, que haviam perdido boa parte do que juntos tinham construído. Conforme os dias passavam, colhíamos uma nova amizade. Que embora nascida em meio ao sofrimento de “José e Janine”, era fruto do compartilhamento das horas de trabalho que passávamos juntos e da crescente admiração que sentíamos por este casal.

Não houve um dia sequer em que eles não trabalharam conosco e até bem mais do que nós. Incansáveis. Determinados. Quanta saúde e disposição para um casal que já passou dos 60 anos! Chegou a lembrar-nos do nosso pai e sogro que, também com bastante idade, não conhece o significado da palavra “parar”…

Mas tinha-se tempo para conversas, para piadas e para muitas histórias. Com eles, vivemos a melhor essência do Workaway: ajudar e fazer trocas culturais.

Olha Bem pq Bem Tem em criar cumplicidade. Dividir lutas e choro. Mas também alegrias, conquistas e sorrisos.

Logo o semblante mudou. Não se tratava mais de derrubar árvores. Agora o importante era plantar mais, regar mais, reconstruir, renascer!

Compartilhamos a imensa felicidade de juntos plantarmos 50 pequenos pinheiros que crescerão fortes e saudáveis como aqueles dois! A cada pinheiro plantado, o desejo de que aquele lugar voltasse a ser o “pequeno paraíso” de José e Janine. A cada pinheiro regado, o desejo de que aquele verde alegrasse o coração deles e de que suprimisse os suspiros de tristeza pelas árvores que não ficariam mais em pé.

Foram dias intensos, de muito trabalho… Mas também dias em que nasceu uma nova amizade.

Ah… Como desejamos voltar. Ah… Como sentiremos falta de nossos novos amigos!

Enquanto pegávamos a estrada, suspirávamos, conversávamos e tentávamos descobrir o que de fato nos havia tanto cativado. Talvez, uma boa definição seja aquele diálogo final entre a Raposa e o Pequeno Príncipe:

“Eis  o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. 

(Antoine de Saint-Exupéry – O Pequeno Príncipe)

Muito obrigado e… #olhabempqbemtem

 

Luiz Felipe Sandins Mendonça

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Rachel e Luiz Felipe Mendonça

Um casal que ama viajar e conhecer novas culturas, novas formas de pensar e de viver. Em suas aventuras, eles buscam sempre o BEM e dividem suas experiências aqui, no Olha Bem pq Bem Tem.

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