#Desapego
#olhabempqbemtem …aprender com o desapego de outras pessoas.
Quando decidi que correria atrás de meus sonhos e de um novo estilo de vida, uma das primeiras coisas que ficaram claras para mim era que, para alcançar meus objetivos, eu deveria “desapegar” de algumas coisas em minha vida.
Apesar do “desapego” ser algo muito valorizado em quase todas as religiões, tanto da tradição cristã, quanto de tradição oriental (ou, pelo menos, deveria ser assim), a conclusão a qual eu chegava, não era nada mais além de um ponto de vista prático e financeiro: se eu abriria mão de meu bom salário para ganhar menos, eu precisaria reavaliar meus gastos, custos e compras.
E tão logo me dei conta disso, reavaliei minha vida e tomei providências.
Foi fácil desativar meu pacote de TV por assinatura e ficar apenas com a Internet. Foi fácil abrir mão da empresa de telefonia que eu tinha na época, em prol de uma que cobrava menos, ainda que me desse eventuais dores de cabeça. Foi fácil não ir à manicure. Diante dos exagerados preços que são cobrados por roupas e acessórios, foi relativamente fácil parar de fazer compras para mim. Quando se tem uma meta bem definida, as demais coisas perdem um pouco sua relevância.
Mas esta foi a parte fácil. Quando falamos de coisas materiais, meu maior “apego” está relacionado à minha casa.
Eu bem que gostaria de ter a coragem de vender minhas coisas e sair por aí… De galho em galho, de cidade em cidade… Mas… Eu sou definitivamente uma pessoa caseira. E, se não estou viajando, o lugar no qual eu mais gosto de estar é a minha casa!
Em casa. Aquele lugar só seu. O casulo. Onde você manda, onde você faz o que quiser… Onde as coisas são do seu jeito. Ah… Meu oásis.
Francamente, eu ainda não sei se quero desapegar da minha casa.
Mas a vida é muito interessante, e nos cria muitas oportunidades para que sejamos coerentes em relação às nossas escolhas (basta a gente querer enxergar).
Então posso dizer que estou em um processo lento… Em um processo quase forçado de desapego.
Explico:
No final de 2016 e início de 2017, meu sogro e minha sogra precisaram ficar alguns meses aqui em casa. Eles são pessoas maravilhosas, mas… Como eu sofri!
Sofri por perder a minha liberdade, por ter que dar satisfação de alguma coisa, pelo simples fato de ter que dividir minha casa com outras pessoas. Pessoas que, apesar de serem amadas e amorosas, tem seu próprio jeito de ser e de agir, tem suas próprias manias, diferentes das minhas.
No final de 2017, viajamos durante três meses e poucas vezes ficamos em hotéis. Em Valência, em Barcelona e em Lisboa, alugamos quartos através do AirBnB. Em Munique, ficamos na casa de nossos queridos primos. Em Weitsche, fomos recebidos pela família Luft; e em Bacharach, por Melanie, Lorenzo, Lennard e Leo. E ainda tivemos a maravilhosa experiência de sermos hospedados por José e Hannie, na Quinta da Portela.
Como não se comover com a alegria, capricho e predisposição de todas essas pessoas em nos receber? Não importa se foi em troca de dinheiro, de trabalho, ou apenas por amor… Não importa o motivo, elas abriram as portas de suas casas, com tudo ou muito do que possuem de mais importante, para receber estranhos. Elas dividiram a atenção de seus cães conosco e de seus filhos. Dividiram suas mesas, cozinharam para nós, dividiram informações sobre suas próprias vidas. Confraternização, da forma como eu entendo.
No Natal que passamos em Curitiba, também fomos recebidos com tanto esmero por nossa família… As cenas do bem que publicamos falam por si só!
Como não se comover?
Faça pelos outros aquilo que gostaria que fizessem por você. Acredito que todos eles fizeram exatamente isso e motivam-me a também fazê-lo. Como naquela famosa música pop: “Ela me faz tão bem, ela me faz tão bem… Que eu também quero fazer isso por ela”.
E foi então que resolvemos alugar um de nossos quartos no AirBnB. E… tão logo colocamos nosso anúncio, ele foi alugado!
Dois irmãos curitibanos alugaram nosso quarto durante o Carnaval. Pessoas tranquilas, bem avaliadas por outros anfitriões do AirBnB. Recebemos da mesma forma como fomos recebidos pelos queridos anfitriões de Valência, Barcelona, Lisboa e Paris. Preparamos tudo com esmero e torcíamos para que eles gostassem.
Mas… Esse tal de desapego é tão difícil de se conseguir…
Confesso que fiquei um pouco aflita. Confesso que tive um pouco de inveja por eles estarem usando o meu quarto, a minha casa. Confesso que desejei que eles fossem embora logo. Confesso que fiquei aliviada quando eles finalmente foram embora, e eu entrei no quarto e vi que estava tudo exatamente do jeito que tínhamos entregue.
Ufa! Deu tudo certo! Eles parecem ter gostado porque fizeram uma ótima avaliação de nosso espaço. E eu, obviamente, ainda não desapeguei.
Mas… A vida continua. Se eu pretendo alugar meu quarto novamente no AirBnB? Claro que sim! Por que não? Continuo usando o AirBnB em todas as minhas viagens.
O mínimo que posso fazer como retribuição é abrir as portas de minha própria casa.
Se voltarei a receber meus sogros? Claro que sim! Como recusar ajuda para aqueles que mais amamos? Receberei meus sogros e mais quem precisar!
Se abrirei as portas de minha casa para refugiados? Ainda não… De fato, o AirBnB tem feito uma linda campanha para que seus anfitriões abram as portas de suas casas para refugiados. Desapegar a esse nível é minha meta.
Minha relação com o desapego começou com uma questão financeira, em que eu tinha que eleger prioridades. Hoje, entretanto, é mais do que isso. É um desafio muito maior!
Eu quero muito poder viver sem me preocupar com bens materiais… Seguindo aquilo que eu, Rachel, entendo como um dos maiores ensinamentos cristãos, e que se repete de forma diferente em muitas outras religiões:
“Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam”. Mateus 6:19
“Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. […]
Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles.
Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’ […]O Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas”. Mateus 6:26-33
Rachel Jaccoud Amaro Mendonça
Trilha sonora deste post:
P.S. Sim, assim como a #gratidão, a #desapego também está na moda… E sobre “a moda do desapego”, o filósofo Luiz Felipe Pondé faz uma análise bem interessante que você pode assistir aqui. Assista e depois me conte o que achou aqui na caixa de comentários!
Estou amando os seus textos, Raquel! Parabéns!
Muito obrigada, Celi! É muito bom saber disso! =)
Eita adorei.
Achei muito bacana a iniciativa principalmente pq tenho a certeza de que não consigo fazer isso. Largo do consumismo com facilidade, mas quando fala da minha casa ai sim a coisa fica bem complicada. Eu não preciso estar grudada no que tem dentro dela, mas preciso que meu lugar no mundo exista, sabe como?
Bem, está na cara que preciso pensar sobre (risos). Obrigada pela ajuda e reflexão.
Eu super entendo, Eliza! =) Que bom que gostou do texto e que ele te fez refletir! Eu mesma ainda estou refletindo muito sobre essa questão. Depois podemos conversar mais sobre isso! Beijos.