O reflexo do antigo
olhabempqbemtem… Estar ciente do reflexo do mais velho no mais novo.
Por mais que nos organizemos, jamais teremos o poder completo sobre todas as coisas!
Em nossa aventura como “workawayers”, nosso terceiro destino seria a Normandia, na França. Porém, imprevistos aconteceram para a pessoa que iria nos receber lá. E, ao buscarmos uma alternativa, viemos “descobrir” Portugal! Já que nunca antes estivemos aqui.
Minha esposa sempre teve vontade de vir para cá. Ela é historiadora e, assim como eu, ama a arte e todas as suas ramificações. Em outras viagens, havíamos nos programado para visitar Lisboa. Alguns imprevistos, entretanto, nos impediram de vir. Agora, eram novamente os imprevistos os causadores de tudo… Mas dessa vez, eles nos traziam até aqui.
Em uma poética coincidência, eis que nossos primeiros passos foram dados na Av. Pedro Álvares Cabral! Pegamos o metrô no aeroporto de Lisboa e ao sairmos da estação, foi esta rua que nos deu as boas vindas.
Tudo tão familiar…
Logo que vislumbramos o Largo do Rato e as ruas ao seu entorno, confirmamos o que todo mundo diz: Lisboa é um Rio de Janeiro Antigo. Os velhos sobrados entre subidas e descidas, nos fizeram lembrar os mais antigos bairros da cidade do Rio de Janeiro, como Santa Tereza, Lapa e Glória.
Debaixo de uma forte chuva que nos lembrou àquelas de verão no Rio (ainda que aqui estejamos no outono), chegamos ao local onde iríamos ficar. Era um quarto reservado pelo Airbnb. E, já na recepção, fomos acalentados por aquela simpatia tão familiar que há dois meses já nos fazia falta… Monica, a esposa brasileira do português Eduardo, mora em Lisboa há um ano. Antes disso, morou na Argentina também. Mas não perdeu o jeito brasileiro de ser.
Assim que chegamos, tocamos a campainha. Lá do alto, ouvimos naquele bom e bonito tom brasileiro:
– Pode subir que a porta está aberta!
Subimos dois andares e fomos recebidos com um grande sorriso de boas vindas. Completado por:
– Quer beber uma água?
E…
– Senta aí, fica a vontade! Coloquei um pouquinho de limão na água de vocês porque eu adoro. Vocês gostam?
E senta mesmo que lá vem história… Em nosso papo de quase uma hora, a Monica nos contou boa parte de sua vida. Sobre filhos, profissão, casamento e oportunidades. Falou abertamente, sem rodeios. Como todo bom brasileiro geralmente faz. Tanto, que também contamos um pouco de nós.
Ah… Como estava sentindo falta dessa familiar simpatia… Do carinho de receber e conversar com alguém que conheceu há, literalmente, cinco minutos. Além do que, foram quase dois meses na Alemanha! Falar em nossa língua materna livremente foi mais do que bem vindo!
E logo após esse delicioso e saudoso bate-papo, fomos descobrir mais um pouco a terra de nossos descobridores…
Foi inevitável fazer mais comparações com o Rio de Janeiro e com o Brasil…
Seguindo a sugestão da Monica, almoçamos em um restaurante português tradicional. Comida deliciosa, bom atendimento de garçons (ops… empregados de mesa)… E… Uma enorme burocracia exposta nas paredes do restaurante! Inúmeros papéis com avisos, autorizações e cumprimento de leis estabelecidas.
Por exemplo, um deles informava que o consumidor não era obrigado a consumir as entradas postas na mesa. Como no Rio, em que vemos papéis informando que os estabelecimentos devem servir água filtrada sem custo, caso o cliente solicite. E era o primeiro país da Europa em que víamos isso. O fato nos chamou a atenção e logo refletimos sobre o Brasil e “de onde vem nossa burocracia”.
Também era nítido o calor e a proximidade das pessoas. Ainda que no primeiro contato prevaleça a educação e formalidade europeia, basta a primeira troca de palavras em português para tudo mudar. Ganhamos sorrisos, piadas e até descontos sem que os solicitássemos!
Este foi o caso do pintor que vendia sua arte em frente ao Padrão dos Descobrimentos. Ao chegarmos para saber mais, ele nos ofereceu de maneira simpática um desconto por sermos brasileiros. Ok, pode até ser o hábito de um vendedor tentando ganhar um pouco mais em final de expediente… Mas o fato é que foi a primeira vez que vimos isso, dessa forma, em nossas viagens pela Europa. Tudo tão parecido com o nosso “jeitinho brasileiro de ser” que não resistimos, e compramos.
Tudo tão familiar…
No restaurante, o garçom (ops… empregado de mesa) nos livrou da escolha de um vinho ruim, sugerindo outro muito melhor e pelo mesmo preço. No bonde, uma senhora a quem ofereci o lugar, começou a puxar assunto com a gente. E, durante todo o trajeto, ela nos deu dicas sobre sua cidade… Elogiando e criticando… Ah… Aqui temos muitos problemas assim, assim, assado… Mas o lugar tal e tal são tão bonitos…
Mais e mais “coincidências” com o lugar de onde viemos!
Ao voltarmos para o local onde estávamos hospedados, tivemos o privilégio de comprovar mais da simpatia portuguesa. Conhecemos o Eduardo, que mais cedo não estava. E ficamos ali a conversar para nos conhecermos mais. Que simpatia! Ele nos deu mais dicas e, ao nos despedirmos, aquela frase tão comum entre nós, brasileiros:
– Sejam bem vindos e, se precisarem de alguma coisa, podem falar!
Dentre todos os países europeus, em Portugal nos sentimos mais bem recebidos, como se esta aqui fosse realmente a extensão de nossa casa… Os portugueses nos apresentaram a mesma simpatia e aproximação que tanto presenciamos no Brasil. E isso é muito bom!
Mas… Foram quatro dias em Lisboa. E foi o suficiente para observarmos algumas desorganizações, bastante frequentes em nosso país… Nos locais turísticos, por exemplo, sentimos falta da infraestrutura alemã, francesa, italiana e catalã. Então, como reflexão, retomo aqui uma frase famosa do poeta português Fernando Pessoa:
“Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até ao fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada”. ― Fernando Pessoa
Olha Bem pq Bem Tem… “reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada”.
Há anos reproduzimos comportamentos e ações sem refletirmos se essas práticas estão sendo boas para nós. Mas, no Brasil, em Portugal, e em qualquer lugar, devemos ter consciência de que aqueles que virão depois de nós podem repetir tudo aquilo que viram de nós… E isso pode não ser bom! Por isso, devemos estar atentos para moldar e remodelar nossos comportamentos e ações. Devemos buscar alternativas para aquilo que não tem dado muito certo e criar novos ensinamentos para os mais novos.
Nesse sentido, a solução pode estar na observação do diferente. Na observação, por exemplo, de culturas que agem de forma diferente de nós. Devemos aproveitar a Globalização para isso… E não, simplesmente, reproduzir o que já não tem dado certo há tantos séculos.
Espero que esse texto tenha inspirado você a observar mais e mudar mais. Se sim, compartilhe com aqueles a quem você também deseja inspirar.
Muito obrigado e… #olhabempqbemtem
Luiz Felipe Sandins Mendonça
Parabéns pelas palavras que traduzem muito bem a linda jornada de vocês. Estou encantada!
Que bom Mariana que gostou! Ficamos muito felizes com seu comentário.Obrigado e conte sempre conosco. 😉
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