Filmes do Bem

Nada Ortodoxa

Nada Ortodoxa é uma bela série da Netflix, lançada internacionalmente em março de 2020, que à primeira vista, causa um certo desconforto. Aos poucos, entretanto, ela cativa ao mostrar-nos algumas coisas sobre as quais sempre falamos e valorizamos aqui no Olha Bem porque Bem Tem. Leia este artigo e descubra porque Nada Ortodoxa entrou para a nossa lista de Filmes do Bem.

Ficha técnica:

Nada Ortodoxa (Unorthodox) é uma minissérie germano-americana de quatro episódios que estreou na Netflix em 26 de março de 2020, inspirada e vagamente baseada no livro homônimo e autobiográfico de Deborah Feldman – “Não-ortodoxo: a escandalosa rejeição de minhas raízes hassídicas” (2012).

Deborah Feldman, em sua juventude, era integrante do movimento Satmar em Nova Iorque, uma comunidade judaica ultra-ortodoxa repleta de tradições que se chocam com as práticas dos dias atuais. E, em seu livro, ela descreve suas memórias ao viver dentro desta comunidade. A minissérie, entretanto, utiliza as memórias de Deborah Feldman apenas como flashbacks e foca sua estrutura narrativa na vida da judia após sua saída da comunidade, contanto uma história completamente diferente daquela narrada pela autora em seu livro.

A minissérie foi gravada em inglês, alemão e, principalmente, em ídiche – a língua oficial da comunidade judaica descrita pela série. E foi escrita por Anna Winger e Alexa Karolinski, dirigida por Maria Schrader, produzida por Karolinski e filmada em Berlim.

História:

Esty, brilhantemente interpretada pela atriz israelense Shira Haas, é uma judia que, em meio às tradicionais cerimônias de sábado, foge para a Alemanha, após sofrer com um casamento arranjado e as muitas restrições impostas por sua comunidade ultraortodoxa, situada em Williamsburg, Brooklyn, Nova Iorque.

Quando Esty chega a Berlim, ela começa a explorar as perspectivas incertas de uma nova vida secular, repleta de livre arbítrio. Ela faz amizade com um grupo diversificado de estudantes de música e é imediatamente exposta aos prazeres mais amplos da arte, da cultura, e do amor. Enfim, ela literalmente descobre um novo mundo, enquanto tenta sobreviver e pensa em avisar sua mãe (Alex Reid) – outra fugitiva – de sua chegada.

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontece, Yanky (Amit Rahav), o ingênuo marido de Esty, descobre que sua esposa estava grávida quando fugiu e, por ordem do rabino, viaja para Berlim para tentar encontrá-la, ao lado do primo (Jeff Wilbusch) que de ingênuo não tem nada.

As aventuras de Esty são regularmente interrompidas por flashbacks de seu passado recente, que passam pelo arranjo de seu casamento, sua noite de núpcias, as sessões de treinamento sexual de mulheres mais velhas da comunidade, e tantas outras experiências que ao longo do tempo fizeram crescer em Esty um profundo sentimento de inadequação.

Por que Nada Ortodoxa é um Filme do Bem?

Nada Ortodoxa é hipnotizante. Nas primeiras cenas, o relato da vida na comunidade hassídica cria um enorme desconforto na telespectadora moderna de origem cristã, livre para ir e vir e tomar suas próprias decisões na vida. Afinal, assistir a uma mulher se sujeitar à tradições tão profundas e restritivas de vontades individuais é, no mínimo, angustiante. E, por isso, à primeira vista, Nada Ortodoxa poderia ser um drama sombrio sobre a maioridade e uma tensa história de sobrevivência.

Curiosamente, porém, enquanto Esty foge e descobre uma nova vida, vai crescendo em nós uma empatia por aquele passado tão diferente da nossa realidade. Afinal, a vida moderna secular dos séculos XX e XXI também não é tão perfeita assim. E nossas angústias pessoais e diárias podem ser vistas com clareza na interpretação viva de Shira Haas que transforma Esty em uma aventureira de olhos arregalados, curiosa e absolutamente aterrorizada ao mesmo tempo, adorável e cativante em suas próprias esquisitices.

Dessa forma, Nada Ortodoxa é menos sobre uma rebelião religiosa e mais sobre as lutas de uma jovem em busca de sua individualidade, apesar dos esforços irritantes de homens convencidos de que podem detê-la. É essencialmente sobre livre arbítrio e sobre como pode ser incrivelmente difícil exercer esse direito tão básico e tão primário.

Por fim, Nada Ortodoxa entra para nossa lista de Filmes do Bem porque remete a alguns valores que sempre compartilhamos aqui no Olha Bem pq Bem Tem. São eles:

“A sorte segue a coragem”.

É preciso muita coragem para abandonar uma vida em detrimento de outra que você nem faz ideia de como é, da forma como Esty fez. Mas nós acreditamos que a vida abençoa essas decisões ao colocar as pessoas certas no nosso caminho.

“Jamais serás quem tu não és”.

É libertador saber que não tem jeito: “Somos quem podemos ser”. E é isso que Esty assume ao sair em busca de uma vida longe do aparente conforto de sua comunidade judaica.

A vida pode ser gostosa de se viver.

Mas, ser assim, é preciso quebrar paradigmas e correr atrás dos nossos sonhos. Afinal, o livre arbítrio está aí pra isso, né? Só que ninguém disse que seria fácil. É, na verdade, bem difícil.

Por fim, Nada Ortodoxa foi produzida com esmero. Tem bons autores, interessante fotografia, lições incríveis para os dias de hoje e, portanto, vale a pena ser assistida.

Já assistiu e gostou da série? Conta pra a gente o que achou aqui nos comentários. E, quando acabar de assistir, não perca também o documentário de 20 minutos, Making Unorthodox, que narra o processo criativo e as filmagens da minissérie. É muito interessante!

Rachel Jaccoud Amaro

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Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

4 thoughts on “Nada Ortodoxa

    • Que bom, Niq! Nosso desejo é exatamente esse: que a vontade de assistir a nossas indicações só aumente! Depois conta pra gente o que achou. =)

      Resposta
  • Cintia Caldas Alves

    Nossa, amei essa série! Não conseguia parar de ver!
    E devo confessar que quando li o post aqui, foi como ler meus pensamentos enquanto a a assistia.
    Excelente <3

    Resposta

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