Comportamento

Marielle Presente

#olhabempqbemtem… Marielle Presente

Há quem viva a vida inteira querendo contribuir para que o mundo melhore, mas não sabe exatamente como ou o que deve fazer…

Esta era, inclusive, uma das coisas que mais me incomodava quando eu trabalhava no meio corporativo. Porque eu estava certa de que ficar sentada o dia inteiro na frente do computador, trabalhando para a indústria de Petróleo & Gás, distanciava-me de qualquer solução ou contribuição para o mundo presente.

Há aqueles que não estão nem aí e aqueles que acham que não é seu papel preocupar-se com isso. (Tudo bem! Sem preconceitos! Cada um tem seu chamado e sua função no mundo!) E há aqueles que sabem exatamente o que fazer e fazem.

Aqueles que, como eu, gostariam de fazer algo, mas não sabem por onde começar, vivem se consolando com os mais diferentes argumentos: “Mas eu preciso trabalhar para me sustentar e é esse o trabalho que tenho”. “Mas eu não tenho tempo”. E… Junto dessas frases bem típicas, eu sempre incluía mais uma bem egoísta: “Se eu não faço nada, pelo menos há quem faça”. E seguia admirando aqueles que fizeram, faziam, fazem e que sempre farão.

Até que matam aqueles que estão fazendo algo…

E aí você pensa: “Agora F#%@!” Quem é que vai fazer? Quem é que vai lutar? Quem é que vai colocar a boca no trambone?”

Choque, tristeza, desilusão…

Há uma semana comemorávamos o Dia Internacional das Mulheres com muita reflexão sobre quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Comemoramos vitórias, mas também sublinhamos os caminhos que ainda devemos trilhar. E apenas uma semana depois, perdemos justamente uma mulher que era símbolo desses desafios, de luta, de resistência, de esperança, de novos tempos. Assassinada. Para se calar.

Marielle Franco não foi a primeira, e nem será a última a morrer por causa daquilo que acreditava. Muitos já foram assassinados por defender tudo aquilo que Marielle defendia: direitos iguais a todos, não importa gênero, raça, país ou origem social.

No século XVIII, a escritora e jornalista Olympe de Gouges defendia o voto feminino e denunciava o machismo. Chegou a publicar, em 1791, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã e acabou na guilhotina.

No século XX, a figura mais emblemática pra mim foi a de Martin Luther King, que lutou brava e belissimamente a favor da igualdade de direitos dos negros nos Estados Unidos. E também morreu, vítima de um atentado covarde.

Líderes que se destacaram…

Fato é que não importa quantas vezes isso já aconteceu. Sempre que acontece novamente, é como se voltássemos vinte mil passos. É como se o sonho tivesse sido em vão (é assim que eu me sinto).

Mais choque, mais tristeza, mais desilusão.

Aí você está triste e reflexiva com a morte cruel e covarde de alguém, de uma pessoa que representava milhões de outras… E é obrigada a escutar: “Mas ela defendia bandido!”.

Independente de suas convicções políticas e ideológicas, há algo muito estranho quando alguém acha que está tudo bem morrer da forma como Marielle Franco morreu. Ou, pior, está tudo bem matar como mataram Marielle. É… Realmente tudo está muito esquisito! (Ainda bem que nesse ponto tem gente que concorda comigo!)

Pensando bem e fazendo uma retrospectiva dos últimos anos no Brasil, nem a morte de Marielle Franco, nem os piores tipos de comentários sobre o ocorrido e sobre ela me surpreenderam. Não… Do lugar onde assisto tudo, tudo isso é muito triste… Mas é previsível.

Infelizmente, estamos sendo diariamente invadidos por fake news, por mentiras e calúnias que são inventadas por pessoas cheias de más intenções e para causar uma percepção errada da realidade. E são bem sucedidos! Segundo pesquisa recente do Instituto britânico Ipsos Mori, o Brasil é o segundo país com pior percepção da realidade, atrás apenas da África do Sul.

Essas fake news são repetidas e viralizadas como verdades, sem serem sequer colocadas em cheque por aqueles que as compartilham. E é incrível o poder que comentários desumanos e segregacionistas podem exercer em uma população. Isso a História já nos mostrou e continua nos mostrando. Basta estudarmos eventos como a Segunda Guerra Mundial ou como o Aparthaid, apenas para citar dois eventos.

Nada disso me surpreendeu (Sim, sou bastante pessimista).

O que me surpreendeu foi ver que há aqueles que concordam comigo. Ver e sentir o olhar de muita gente que se revoltou e se indignou como eu. O que me surpreendeu foi ver o povo na rua, sofrendo junto e se solidarizando junto. O que me surpreendeu foi ver que o trabalho de Marielle Franco não foi em vão.

Quero pensar que, se ela pudesse ver tudo isso que está acontecendo, ela estaria muito feliz em ver toda essa mobilização. Porque era na mobilização da sociedade que ela acreditava. Ela acreditava na mobilização da sociedade em prol de um mundo melhor, mais igualitário, mais justo.

Quero pensar que Marielle se tornará um símbolo de luta ainda maior para a nossa sociedade. Não como alguém que defendia minorias, como gostam de dizer por aí, mas como alguém que defendia as maiorias. Porque a maioria no Brasil é de mulheres. E a maioria das mulheres é de pardas e negras!

Quero pensar que ao se tornar esse símbolo ao lado de tantos outros, ela não será esquecida. Ao lado deles, Marielle continuará sendo inspiração para que possamos mudar para melhor o mundo em que vivemos.

Marielle continuará presente em nós.

Porque no Brasil ASSASSINATOS NÃO SÃO PERMITIDOS.

Porque ainda NÃO vivemos em um Estado Totalitário em que não podemos emitir nossas opiniões.

Porque ainda vivemos em uma DEMOCRACIA e queremos que continue sendo assim.

Porque somos a favor dos Direitos Humanos, sim!

Porque NÃO somos a favor das fake news.

Porque precisamos lutar sempre e sempre lutaremos.

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Trilha sonora deste post:

Dom Quixote – Engenheiros do Hawaii

P.S. Reuni alguns links que valem a pena ser lidos. Alguns já foram listados no texto, outros listei aqui embaixo. Leiam se tiverem tempo! Que possamos buscar informação de qualidade sempre. Que possamos ler com nosso senso crítico ligado sempre. Esse já será um bom início para a mudança que queremos.

Porque é preciso ler sobre Direitos Humanos:

Porque é preciso discutir sobre Polícia e Intervenção:

Porque é importante conhecer quais são as Fake News:

Porque é preciso diferenciar a morte de Marielle de outras mortes:

Porque há quem gosta de pensar dentro da perspectiva cristã:

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

6 thoughts on “Marielle Presente

  • Hevea Helen Pradanoff

    Sem palavras!!! Simplesmente sensacional!!!!

    Resposta
  • Jader André Tiburço

    Texto excelente, desde a introdução em que compartilho sua opinião em querer fazer algo e não saber como mas, admirando as pessoas, como por exemplo , Marielle que saíram de seus casulos e foram à luta. Tenho muita admiração por esses verdadeiros e admiráveis cidadãos antenados com nosso tempo.

    E falando de Marielle e sua luta, você foi brilhante na análise de nossa sociedade.

    Parabéns!!!!

    Resposta

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