Empatia (ou A exposição de Raymond Depardon)
#olhabempqbemtem quando encontramos empatia no nosso dia a dia.
Duas coisas que amo: encontrar semelhantes e o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. Duas coisas bem diferentes, que se encontraram na tarde da última quarta feira, na exposição: Raymond Depardon: un moment si doux (um momento tão doce).
Explico…
Eu me considero uma pessoa bastante diferente da maioria. Por nascença e por opção. Por nascença porque desde muito pequena não sigo o padrão familiar, nem o padrão das crianças de minha idade, em minha própria época. Já disse outras vezes que já nasci velha… Por opção, porque gosto de ser assim, não me esforço e nem quero mudar. Gosto do diferente.
Mas é bom demais quando encontro diferentes como eu… Pessoas, textos, músicas, pinturas, filmes, livros com os quais me identifico a ponto de pensar que eu poderia ter escrito, dito, pensado exatamente daquele jeito. Semelhantes de alma.
Tenho um amigo que ao falar se utiliza de um sarcasmo, pessimismo, ironia e constatação tão sinceros, que exprimem pensamentos meus muitas vezes ainda nem formulados! De alguma forma, esses pensamentos me completam como se sempre estivessem estado lá, no meu subconsciente.
Perdi a conta de quantas vezes caí na gargalhada com ele, pelo simples dom que ele tem de exprimir aquilo que nem sei, mas que sempre soube. Como se ele tivesse encontrado um pensamento perdido no baú de minha própria mente. E foi essa mesma sensação que tive quando li A Elegância do Ouriço de Muriel Balbery, sobre o qual escrevi na sessão Leituras do Bem.
Tenho um amor incondicional pelas composições de Humberto Gessinger. As velhas, escuto desde tão pequena que não sei se eu sou delas, ou se elas são minhas. Não sei até que ponto eu me identifico com elas e por isso as escuto, ou se me identifico com elas porque sempre as escutei. Como se não soubesse o que veio primeiro: o ovo ou a galinha? As composições de Gessinger dialogam com a minha alma e eu sempre as compreendi, mesmo quando minhas amigas insistiam em dizer que delas nada entendiam. Poesia. Identificação.
E aconteceu novamente…
Aconteceu novamente, durante a exposição autobiográfica do fotógrafo Raymond Depardon, até o dia 22 de janeiro no CCBB.
Fui ao CCBB porque o amo. É um oásis no meio da correria do centro da cidade. Cheiro, ar, clima, sensações diferentes. Sempre com novidades e arte para ser respirada.
Há muito o considero como uma segunda casa, apesar de pouco frequentá-lo. E suas paredes guardam momentos importantes de minha vida, como por exemplo o primeiro encontro com o Luiz Felipe, cuja simples sugestão de nos encontrarmos lá já teria rendido um “sim” ao pedido de casamento (mas isso é assunto para outro post).
E fui ao CCBB como quem diz: – “Oi! Há quanto tempo não te vejo… Estava passando por aqui e resolvi fazer uma visita!”.
E encontrei despretensiosamente a exposição do Depardon. Na verdade, nem mesmo iria assisti-la se não fosse o segurança me pedindo um ingresso que eu não tinha. E perguntei: – É exposição de quê? O segurança, um pouco sem graça com minha pergunta, me respondeu: – Ah… Fotografia que ele tirava em suas viagens.
Primeira empatia. Fotografia e viagem. Duas paixões! Achei que valeria a pena ir atrás do ingresso. E que bom que fui! Porque vi meu próprio olhar através do olhar de Depardon.
O curador já avisava: “Depardon tira fotos que qualquer um poderia tirar e que ninguém tira”. E dito e feito… O primeiro quadro já revelava essa cena corriqueira de um homem lendo deitado na cama. Por si só, uma verdadeira cena do bem. Vislumbrei o quadro e identifiquei outra cena bem ali: uma mulher iniciava sua visita lendo, tal como o personagem do primeiro quadro. Duas leituras em uma exposição de fotografia que, por isso, merecia uma primeira foto. Pensei: – Eis nossa “cena do bem” do dia. Segunda empatia.
Mas era apenas o começo…
Quanta sensibilidade! Quanta cor! Quanta naturalidade! Depardon gosta de fotografar a vida. (E o que é o Olha Bem?)
Meus olhos brilhavam diante de tantas outras cenas que poderiam ser belas contribuições para o Olha Bem pq Bem Tem: crianças brincando, velhinhos sorrindo, cachorros. Cenas comuns do dia a dia, em diferentes lugares pelos quais o fotógrafo passou.
Que deliciosa tarde na companhia do olhar de Depardon! Quanto ele viu, quanto viveu! Quanto me proporcionou ver!
Foi amor a primeira vista. Foi empatia.
Depardon é um fotógrafo e cineasta francês bastante renomado e mundialmente famoso. E o mundo em que vivemos tende a colocar uma aura nos mais diferentes artistas e famosos, como se eles fossem pessoas especiais, muito diferentes de nós. Por causa disso, perdemos a noção de que eles são, na verdade, pessoas como nós. Semelhantes. Capazes de, com seu trabalho, nos causar uma preciosa empatia. E a empatia nos une.
Depardon me proporcionou uma tarde maravilhosa com seu trabalho e me fez lembrar dois dos principais objetivos do Olha Bem porque Bem Tem. O primeiro, que ansiamos por outros olhares… Pelo seu olhar, leitor! Pela sua contribuição! E o segundo, que é o principal motivo pelo qual eu escrevo: queremos causar empatia.
Poderia falar muito mais sobre a exposição de Depardon. Mas sugiro que você vá lá e olhe bem com seus próprios olhos. Ficaremos felizes se depois você voltar aqui para nos contar o que achou.
Ao sair dali, eu senti muita vontade de colocar uma #Gratidão. Agradeci e desejei do fundo do meu coração que meus textos um dia possam ser para outras pessoas aquilo que as músicas de Gessinger e a fotografia de Depardon significam para mim.
Rachel Jaccoud Amaro Mendonça