4 aniversários e 1 funeral
#olhabempqbemtem …Fazer aniversário. Fazer festa de aniversário. Não fazer festa de aniversário.
Tenho amigos que amam fazer aniversário! Um mês antes do acontecimento, eles já começam a anunciar a data e a planejar suas comemorações. Para eles é algo tão importante que eles chegam a se sentir ofendidos se você esquece de parabenizá-los ou não faz questão de ir a pelo menos uma de suas comemorações. Eles querem presentes, beijos, abraços, felicitações e, acima de tudo, a sua presença. Eles gostam de festa! E acreditam que ter concluído mais um ano é mesmo algo digno de nota.
Brasileiros x Alemães
Acredito que este seja o comportamento da maioria dos brasileiros. Em nenhum outro lugar, fazer aniversário é tão importante quanto aqui. Somente aqui o mercado de festas infantis é tão profícuo. Não basta fazer um bolinho, comprar uma velinha e cantar parabéns. É preciso convidar a família e os amigos, contratar buffet, casa de festas, equipe de animação, fotógrafos… Tudo e um pouco mais!
Quando estávamos em Weitstche, na fazenda autossustentável da Família Luft, vivenciamos um comportamento praticamente oposto ao nosso. Três aniversários aconteceram enquanto estávamos lá. Para comemorar, eles fizeram um bolo tipicamente alemão (o pessoal do sul do Brasil conhece como Cuca). Sem velas, sem convidados além dos que ali na fazenda estavam… E… sem cantar parabéns!
Brasileiros e australianos viram o bolo chegar e arregalaram os olhos quando perceberam que o bolo seria partido sem o famoso “Parabéns pra você!”.
Não. Os alemães não são todos assim. Depois perguntamos a um dos aniversariantes porque eles não cantavam parabéns e ele nos deu uma explicação bem simples: “Não cantamos porque não gostamos”.
Isso por si só já sugere que “não nascemos assim”, necessariamente. Comemorações de aniversário são uma prática social repassada de pais para filhos. E como toda prática social, acho que precisa ser pensada. Em outras palavras, não é porque sempre foi feito que devo continuar fazendo. É preciso pensar: “Por que eu faço? Qual o objetivo de fazer? Isso me faz bem?”.
Um aniversário diferente
Eu nunca gostei de aniversários. Estou mais para alemães do que para brasileiros. Gosto que meu dia passe desapercebido.
Felizmente, meus amigos e minha família já sabem que sou esquisita. Então nunca acontece uma pressão social muito grande para que algo se realize no fatídico dia. Até mesmo porque sempre chove! (Aliás, em geral coincide com dia de dilúvio e enchente na cidade do Rio de Janeiro)
Não me leve a mal… Não é por nada. Não tenho sequer problemas com envelhecer porque, como sempre digo, “Já nasci velha!”. Acho apenas desnecessário, trabalhoso, cansativo…
Mas esse ano, não sei porque, resolvi fazer diferente… Talvez porque, em minha vida pessoal, vivo dias que gostaria de viver. Talvez porque depois de muitos anos faço algo que realmente gosto de fazer. Talvez porque meu subconsciente realmente gostaria de comemorar tudo isso. Ou, ainda, porque comemorar seria uma forma de fugir do turbilhão de acontecimentos vividos no mês de março e divididos com nossos leitores em Na saúde e na doença, Na alegria e na tristeza e em Aceite o que a vida lhe dá.
Fato é que comemorei como meus amigos comemoradores comemoram: várias vezes. Foram 4 comemorações diferentes, em situações diferentes, para públicos diferentes.
1 aniversário e 1 funeral
Iniciei os trabalhos 4 noites antes, em um jantar a dois, em meu restaurante preferido. Pelo menos, essa foi a desculpa… Porque talvez o jantar acontecesse de qualquer forma: com ou sem aniversário em vista.
Para o meu dia eu planejara um passeio a tarde, para ver aquela paisagem preferida na cidade, também a dois. Mas o “meu dia” começou com uma triste notícia: uma pessoa muitíssimo querida morrera naquela mesma madrugada.
Ah… essas surpresas da vida… esses planejamentos furados… Sofri muito com isso. “Meu dia”, portanto, foi de muita reflexão.
D. Colombina já estava doente há bastante tempo e há muito eu gostaria ter ido visitá-la… Não fui. Perdi todas as oportunidades. Não sei se D. Colombina sabia do enorme carinho e admiração que tinha por ela. Queria tanto tê-la dito!
Não sofri por sua morte porque sabia que há muito ela sofria pra viver… Foram anos de luta contra o câncer e agora tinha a certeza de que ela estava muito bem. Sofri porque não priorizei o contato com ela. Sofri porque agora já não mais poderia conversar, ouvir e aprender com ela.
“Ah, D. Colombina, perdoe-me por ter dado mais valor ao trabalho do que a sua companhia. Ah, D. Colombina, quantas vezes a morte terá que acontecer para que a gente aprenda a valorizar realmente aquilo que deve ser valorizado?” Era o que eu pensava durante aquele funeral no dia do meu aniversário.
3 aniversários em 1 semana
Naquele mesmo dia, em meio às minhas reflexões, brindei, passeei, comemorei a dois, a três, depois a quatro. Um lindo e quente dia de sol, que terminava com chuva, mas sem dilúvio.
Quatro noites depois, receberia aqui no Rio de Janeiro uma prima/irmã/amiga com seu delicioso filhote. Isso também não era motivo de comemoração? Então inventei mais uma, dessa vez para a família toda! Foram quatro dias de preparação para um jantar de quatro horas de duração. Foi muito bom receber todos. Acho que todos gostaram… Se eu gostei? Gostei… Mas… Eu fiquei tão cansada!
A última das comemorações foi como a primeira (e da forma que eu mais gosto): a dois. Porque “a dois” a conversa flui melhor, a gente respira melhor, concorda mais, diverge menos.
Mas a este evento, não demos o nome de comemoração e, talvez por isso, essa tenha sido a comemoração que mais aproveitei!
Ao vir ao Rio, minha prima/irmã/amiga fez um único pedido: que saíssemos apenas nós duas para passearmos pela cidade. Ela me disse que precisava disso! Passeio + fofoca + tricô + comida com quem te entende e com quem você curte… E olha que privilégio: eu era essa pessoa! Me senti tão especial!
Ah… essas surpresas da vida… esses planejamentos que dão certo… Ela não sabe disso, mas eu fiquei tão feliz com aquele pedido! Eu não sabia que precisava do mesmo que ela e quem acabou ganhando o presente fui eu!
Como será a sua comemoração?
Talvez você não seja chato e esquisito como eu. Talvez você, ao contrário de mim, goste de comemorações. Mas independentemente de você gostar ou não, eu lhe convido a pensar sobre o assunto.
Qual seria realmente a melhor comemoração para você? Comemorar o quê? Para quê? Para quem? O que te faz bem? Você não precisa comemorar seu aniversário se não quiser. E você pode comemorar se quiser… Mas pense sobre isso.
Eu gostei de minhas 4 comemorações. Mas aprendi que apenas uma já está de bom tamanho! Mais, é demais. E sinto que não me recuperei de todas elas até hoje! Ainda estou cansada! Mas quem sabe faço outra festa para a família daqui a 20 anos?
Fato é que minha comemoração preferida diz muito sobre mim. E, se você parar para pensar, a sua dirá muito sobre você também.
Rachel Jaccoud Amaro Mendonça
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