Reflexões em uma faixa de pedestre
#olhabempqbemtem… Não mudar suas convicções e seu comportamento por pressão de uma maioria.
Embarcamos em mais uma viagem. Dessa vez, estamos no Peru, dando continuidade ao nosso plano de conhecer um pouco mais da cultura e costumes da América do Sul. (Em junho, estivemos na Argentina e no Chile e, se você perdeu nossos relatos sobre esses países, acesse-os aqui).
Claro que o Peru não poderia ficar de fora de nossos planos. Afinal, o país é conhecido por guardar boa parte da antiga cultura inca, bem como a incrível cidadela de Machu Picchu.
Assim como na Argentina, no Chile e no Brasil, também por aqui estão evidentes as desigualdades sociais. E é bastante triste observá-las. Mas, mesmo em meio ao caos que muitas vezes se apresenta, podemos identificar ricos ensinamentos. Afinal, não é este o objetivo deste blog?
Falando em caos…
Eis algo que nos chamou muita a atenção em Lima, em Cusco e nos arredores: o trânsito, ou melhor, o comportamento no trânsito. Está certo que também no Rio de Janeiro o comportamento no trânsito não é dos melhores. É muito comum, por exemplo, vermos pedestres e motoristas ultrapassando o sinal vermelho, pessoas atravessando fora da faixa de pedestres, dentre outras práticas bastante condenáveis. Mas… Bem… No Peru, é um pouco pior. De alguma forma, um pouco mais caótico… Como se pedestres e motoristas estivessem brincando com a própria vida a todo instante.
Para quem já andou em cidades europeias, especialmente na Alemanha, na Suíça e na Holanda, o cenário pode ser bastante chocante. Afinal, nestes países o respeito entre motoristas, ciclistas e pedestres é levado muito a sério. Pedestres costumam ter prioridade se há uma faixa. E o simples pisar do pedestre na faixa já impede que o carro continue. Motoristas param, aguardam. Pedestres também param, aguardam. Inclusive, eles também estão passíveis de receberem multas em caso de descumprimento das leis de trânsito.
Parece algo bastante óbvio mas, em nosso continente, entretanto, ainda há muito que aprender sobre o assunto.
Eu, um pedestre em Lima
Estávamos na cidade de Lima, bem diante de uma faixa de pedestres. O sinal ficou verde. Mas, quando fui atravessar, tive que adiantar logo o passo pois um carro virava naquela esquina.
Em um outro sinal, paramos. Aguardávamos até que o sinal fechasse para os carros. Entretanto, percebia que muitos pedestres atravessavam correndo, ignorando a cor do semáforo. O mesmo aconteceu em outras duas esquinas e, na terceira, sem que nos déssemos conta, fazíamos o mesmo que os demais.
Sem querer, comecei a imitar a maioria. Ao ver outras pessoas correndo para chegar ao outro lado, e ultrapassando o sinal que estava fechado para nós, reproduzi atitudes com as quais eu nem concordo. Sem perceber, fiz o que a maioria fazia.
Imediatamente, lembrei-me dos sinais da cidade de Hanover, Munique e outras cidades na Alemanha. Nelas, é muito comum presenciarmos ruas completamente desertas de carros e, apesar disso, pessoas aguardam o sinal de pedestres abrir para atravessar.
Você pode pensar: “Mas que bobagem! Por que não atravessar?” ou “Eles só não atravessam por causa da possibilidade de serem multados”. O que eu penso é que se admiramos países desenvolvidos como os deles, devemos atentar para nossa diferença de comportamento. Incluindo aqueles que nos parecem menos importantes, ou mais banais.
Eu sempre admirei o bom comportamento europeu no trânsito. Por que então estava ali reproduzindo um comportamento contrário se eu sabia que as regras eram as mesmas? O que me fazia achar que poderia desrespeitar o sinal vermelho no Peru, mas não na Alemanha?
O que diferencia um sinal na Europa de um sinal na América do Sul?
Se eu desrespeito um sinal vermelho na Alemanha, atraio muitos olhares de indignação. A atitude não é normal, não é comum. Afinal, para alemães, como posso exigir o respeito de um motorista quando estou utilizando uma faixa sem semáforos, se eu não respeito quando o sinal está fechado para mim. Uma mão lava a outra…
Em Lima, ao contrário, atraí muitos olhares que me criticavam por eu aguardar. Era como se dissessem: “Vai ficar parado aí, seu mané?”.
Pois é… A diferença está no comportamento da grande massa. Na Europa, eu me vejo “obrigado” a respeitar essa lei que também existe em nosso país, no Peru e na grande maioria das cidades. Se eu não cumpro a lei, me destacarei dos demais, chamarei muita atenção! No Peru e em meu próprio país, ninguém parece dar muita importância. Então tudo bem se eu não cumprir. Mas, afinal, qual é o país que eu quero?
Essa história me fez refletir sobre como e quanto nossas ações têm o poder de influenciar o outro.
Nossas ações valem muito mais do que imaginamos
Muitas vezes achamos que não tem nada demais se posicionar de determinada forma. Muitas vezes achamos que não tem nada demais ultrapassar o sinal vermelho. Mas é bom estarmos atentos. Afinal, essas nossas pequenas atitudes são capazes de influenciar o comportamento de tantos outros a nossa volta, como uma cadeia que não tem fim.
Nesse sentido, precisamos refletir: nossas ações estão de acordo com aquilo que queremos para nossas vidas e para o nosso país? Estou reproduzindo o comportamento da maioria ou estou vivendo e agindo de acordo com o que eu realmente acredito ser melhor?
Se quero atingir a mesma qualidade de vida de um alemão ou de um francês, é no comportamento deles que devo me espelhar. Não faz sentido?
Eu te convido a refletir sobre isso também. É muito fácil viajar para a Europa e seguir as regras que todos seguem lá. É muito mais difícil estar em seu próprio país e valorizar e defender as mesmas regras que na Europa fazem toda a diferença, mas que aqui somente “os otários” seguem.
Eu te convido a não ultrapassar o sinal vermelho, te convido a atravessar sempre na faixa de pedestres. Acima de tudo, te convido a respeitar e valorizar as leis de nosso país, nossa constituição, nossa democracia. Faça isso acreditando que sua atitude fará toda a diferença.
Os próximos dias serão decisivos para nosso país. Estamos em processo de eleições e devemos dar valor a esse momento.
Desejo que essa reflexão faça com que tenhamos noção de nossa responsabilidade. A mudança começa em nós, não nos candidatos. Que estejamos preparados para escolher de acordo com aquilo que achamos que é certo, ainda que isso signifique ir contra o que pensa a maioria.
Muito obrigado e…
#olhabempqbemtem
Luiz Felipe Sandins Mendonça
Esse é o Espírito da cidadania, seguir o correto sem copiar o incorreto mesmo que seja o caminho, digamos “mais fácil”! Excelente texto e reflexão! Com certeza a mudança começa por nós mesmos! Obrigada por nós lembrar!
Muito obrigado por suas palavras. Com certeza são comentários como o seus que nos aumenta o compromisso e responsabilidade de cada vez mais acreditar neste projeto do Olha Bem! Que continuemos com essa missão e que mais pessoas como você nos ajude. Realmente uma alegria!
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