Que te vaya muy bien
#olhabempqbemtem …Ouvir “Que te vaya bien!”
Não foi fácil deixar Buenos Aires. Havia tanto mais para conhecer… Havia tanto mais para fazer… E para comer! rs
Talvez por isso tenhamos chegado a Santiago com nossas expectativas muito altas. (Expectativas, sempre elas as causadores de problemas…). Queríamos mais de Buenos Aires e chegamos na capital chilena já com saudade da outra, como ex-namorados inconformados com o término de um relacionamento que julgavam ser muito bom.
Pois é… Se você já chegou ao fim de um relacionamento, sabe muito bem que a pior coisa que pode acontecer ao teu próximo é você querer buscar semelhanças da pessoa antiga na pessoa nova; ou melhor, da cidade anterior na próxima cidade, como era o nosso caso… Simplesmente não dá certo.
O Ricardo Freire do Viaje na Viagem, por onde sempre começo a planejar meus roteiros, já tinha me avisado: Santiago é completamente diferente de Buenos Aires.
A primeira impressão
Chegamos em uma manhã de domingo fria. Havia chovido e ventado naquela madrugada porque as ruas da cidade estavam muito sujas, com poças d’água e folhas para todos os lados. Cansados, a caminhada até o local onde ficaríamos hospedados não foi fácil, nem bonita. É que quem quer viver viajando nem sempre pode se dar ao luxo de ficar nos melhores hotéis da cidade… Ficamos onde dava pra ficar.
No caminho, grande parte dos estabelecimentos estava fechado. Ruas desertas. Domingo não abre quase nada mesmo. Por isso, nossa primeira parada teve que ser em um carrinho de rua que vendia empanadas fritas.
Confesso, sou bastante desconfiada com comida de rua. Mas naquele momento não tínhamos opção. Consolava-me que o local tinha uma clientela fiel e bastante interessada. Parecia que as únicas pessoas que tinham saído de suas casas naquela manhã, o haviam feito apenas para comer aquelas empanadas. Isso era bom sinal.
De fato, as empanadas estavam deliciosas. Eram diferenciadas, feitas com massa a base de milho. Recheio saboroso. Nada a ver com as empanadas argentinas. Atendimento correto, comemos, pagamos, nos despedimos e ouvimos pela primeira vez: “Que te vaya bien!”.
De início não demos muita importância àquela frase, e nem suspeitávamos que ela nos acompanharia ao longo de toda a nossa viagem pelo Chile.
A Santiago dos chilenos…
A Santiago dos chilenos é cara. De acordo com o site Numbeo, que calcula o custo de vida de cidades no mundo todo, na América do Sul, Santiago só perde para Montevideo.
Buenos Aires, por outro lado, é bem mais barata que o Rio de Janeiro, onde moramos. De forma que estávamos em um lugar onde nos sentíamos ricos, e acabávamos de chegar em outro que nos fazia contar e converter cada centavo do que comíamos ou bebíamos. (No Brasil, a boa mesmo é se mandar pra Curitiba, que no ranking de custo de vida está melhor até que Buenos Aires!)
A Santiago dos chilenos possui uma arquitetura moderna, funcional, nem sempre bonita… Na maioria das vezes, apenas prática, adequada aos seus terremotos, e não necessariamente ao seu clima. Parece dispensar firulas, antigas tradições europeias, detalhes que apenas atrasariam seu modo de viver a vida. (Antigo mesmo só as músicas… Porque parece adorar um “good times” assim como eu. Good times em todas as rádios).
A Santiago dos chilenos é como aquele seu amigo que está economicamente bem de vida. E o motivo é justamente não gostar dos excessos. Ele faz a opção pelo que ele pode, não pelo que ele quer ou dizem ser mais importante. E vive muito bem assim, com suas dívidas pagas.
E isso é bem diferente do Brasil ou da Argentina… Que se parece mais com aquele seu amigo que esbanja, compra tudo do mais caro, do bom e do melhor… E, no final do mês, está sempre com a conta no vermelho.
Os chilenos de Santiago
Assim como sua arquitetura, os chilenos também são bastante práticos. Sem rodeios, sem firulas, sem muita conversa. Tampouco são frios… Não são rudes, são muito educados. São simples, são corretos. São o que são… E amam ser chilenos!
Chilenos são nacionalistas, tem orgulho verdadeiro de seu país. E isso não tem nada a ver com futebol. Diferente de quando estávamos na Argentina, na Espanha e em Portugal, não ouvimos nenhum chileno falar mal de seu país. Pelo contrário, a simples menção ao fato de que talvez eles não sejam chilenos, pode lhes parecer uma ofensa…: “Mas é claro que sou chilena!”.
Chilenos vem de outra tradição. Talvez mais próxima daquela indígena, que no Brasil tanto se perdeu (e na Argentina também).
Não estudei sobre o assunto e pode ser que o que estou falando seja bobagem, mas acredito que seja justamente por isso, por essa diferença de tradições, que os chilenos sempre te abençoam quando se despedem de ti com o:
“Que te vaya muy bien”
O primeiro a dizer foi o moço das empanadas. Mas depois, reparamos, não havia uma pessoa que conversasse com a gente que não dissesse ao final: “Que te vaya bien”. Claro, virou costume. Como o “Bonne journée” que você sempre escuta em Paris, como um “Até logo” que você escuta em qualquer lugar do mundo… Ou até como um “Passe bem” ou “Vá com Deus”. Mas é tão mais bonito!
É mais bonito porque é dito com sentido. Com significado. Como uma benção, de fato. E, não, da boca pra fora.
Se você parar para pensar, para viajantes isso ganha um significado ainda mais especial. Porque, sim, temos um longo caminho pela frente. E que esse caminho seja muito bom, é muito importante!
A cada saudação, os chilenos nos abriam um sorriso sincero. A cada saudação, nós repetíamos e entregávamos outro sorriso de volta… E assim, aos poucos, fomos esquecendo da bela Buenos Aires. Fomos vivendo o ali, o agora, o presente vivido pelos chilenos todos os dias, com prazer.
De volta ao Brasil, tenho vontade de dizer às pessoas “Que te vaya muy bien!”. Não me entenderiam. Mas digo em pensamento, como forma de abençoar todos aqueles que passam pelo meu caminho. Aprendi com os chilenos.
Rachel Jaccoud Amaro Mendonça
Como sempre voces nos emocionam. Obrigado porque apis um ano o olhabempqbemtem continua a mexer com nossas emoções. Pra voces eu digo: “Que te vaya muy bien!”
“Que te vaya muy bien”, Dirceu! E muito obrigado por desde o início apoiar nosso projeto! É por causa de comentários como o seu que ele continua a existir. =)
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