O que aprendi com a morte de meu avô
Mais um ano está prestes a morrer, a ir-se…
Assim como mais um ano está a nascer, a chegar…
Talvez, ao fazermos nossas retrospectivas, deparemo-nos com situações difíceis que tenham nos transformado em pessoas mais duras. Se não aconteceu com nós mesmos, é fácil ter acontecido com alguém que conheçamos. Não é verdade?
Ao longo do tempo, algumas pessoas vão ficando de certo modo mais ásperas e menos pacientes; e a cada ano parece que os sentimentos de amor e de carinho vão sendo deixados para trás. Muitas vezes conhecemos pessoas que já tiveram tantos momentos desagradáveis que se apresentam com suas armaduras e armas como se estivessem sempre em guerra. Entretanto, acredito que, haja o que houver, em algum momento, conseguiremos ver entre aquelas pedras uma flor. Ainda que existam pedras maiores que esmaguem a flor ou qualquer outro sentimento que queira aparecer…
Mas o que podemos fazer? O que podemos fazer?
Opções sempre existem. Por isso, se quisermos, sempre poderemos fazer algo. Se quisermos, sempre poderemos tentar e buscar por soluções… Pois eu não sei você, mas prefiro no futuro dizer que tentei, em vez de me perguntar: “E se eu tivesse feito tal coisa?”.
Com o findar de um ano é mais fácil. Por mais que um ano acabe, se ainda estivermos aqui, teremos sempre a chance de modificar aquilo que desejamos. Entretanto, com pessoas é diferente. Se uma pessoa se for para sempre, como podemos fazer?
A morte de meu avô
Embora eu tenha iniciado este texto tendo como evidência a morte de um ano e o nascimento de outro, toda essa reflexão eu fiz no dia 15 de dezembro de 2019. Foi num domingo, logo quando soube do falecimento do meu avô.
Em sua homenagem, eu escrevi:
“Em nossa vida façamos nossa parte, não deixando de dizer ao outro como gostaríamos que fosse, caso não esteja como desejamos. Talvez isso venha fazer toda a diferença e mude os caminhos.
Gostaria de lembrar de mais momentos inesquecíveis ao seu lado, vô… Mas sua vida deve ter sido dura. E por isso você teve que se endurecer tanto, até que ficou difícil amolecer… Mas isso agora não importa. Saiba que seu neto aqui, o mais velho, sempre te amou e te ama. Descanse em paz…
Neste domingo, eu aprendi algo com sua despedida. E sofro por você ter ido embora sem termos aproveitado mais um ao outro. Mas, se de fato um dia existir esse tal momento de nos reencontrarmos, espero dizer muitas coisas bonitas para você, sobre como eu desejaria que fosse diferente quando você estava aqui.
Com amor, seu neto.”
Uma lição aprendida
Mas então qual foi a lição disso tudo?
Meu avô deve ter tido, sim, uma vida de momentos desagradáveis, duros e muitas vezes até desleais. Tanto que, infelizmente, eu não me recordo de ter vivido aqueles momentos de avô e neto, tantas vezes registrados pelo Olha Bem porque Bem Tem, em que o avô faz todas as vontades dos netos, mima-os, conta-lhes suas histórias de vida, entre tantas outras coisas que se escuta de muitos avôs por aí… Por conta disso, realmente era uma incógnita para mim como seria esse momento da morte do meu avô. O que eu sentiria? O que eu pensaria?
Naquela tarde de Lisboa, ainda manhã no Brasil, ouvi a mensagem de minha mãe dizendo que meu avô havia partido para sempre desta vida… E fui invadido por um misto de sentimentos, principalmente pela angústia da distância. Por não estar junto de minha mãe para lhe oferecer o ombro de filho, de amigo, de carinho… Meu coração apertava cada vez mais e doía. Afinal, eu não poderia mais ver meu avô.
Não é que eu tivesse o costume de vê-lo. Minha última visita fora de surpresa, no início deste mesmo ano em que ele se foi. Ele já estava diferente, o tempo já o havia amolecido. Mas talvez ele também houvesse esquecido alguns sentimentos, tais como o carinho… Entretanto, saber que não veremos mais alguém que faz parte de nossas vidas, pode ser doloroso. E era… Foi então que, ao tentar buscar lembranças, me dei conta de que nunca havia pedido para ele contar como fora sua vida! Não lembrei de jamais ter pedido que fosse de uma outra forma, que não aquela que nós da família já estávamos acostumados: lidar com o duro e difícil Seu Sandins!
Entraram neste momento os “se”… E antes que eu fosse consumido pela culpa, afinal, não podemos ser culpados pela ação e comportamento dos outros, eu aprendi com aquela situação.
Reflexões de fim de ano
Por isso, neste período de final de ano, tentarei comunicar-me com todos aqueles que fazem parte de minha vida, para deixar claro como eu gostaria que fossem determinados momentos. Desta forma, acredito que poderemos aproveitar mais uns aos outros. Da mesma forma, gostaria que aqueles que me cercam presenteassem-me com os mesmos comentários e sugestões. Afinal, nada mais justo, penso eu.
Reflita você também sobre a sua vida, em todas as esferas possíveis: familiar, social e profissional. Pense naqueles que fazem parte de seu dia a dia, que fizeram ou fazem parte dos dias deste ano que passou. Existe alguém que você deseja que mude algo quando está contigo?
Aproveite essa oportunidade de final de ano (ou início) e pergunte a ela o porquê dela agir desta forma. Pergunte também se ela aceita ouvir como você gostaria que fosse o relacionamento de vocês. Talvez essa atitude faça toda a diferença e mude caminhos, mude vidas. Eu penso que isso será bem mais proveitoso do que esperar para fazê-lo quando a morte vier.
Termino este texto desejando um feliz ano novo, com desejos de que o próximo ano seja de aprendizagem, harmonia e conquistas! Aproveito e peço gentilmente que registre nos comentários sugestões de melhorias para esta página e projeto. Da mesma forma, se fizemos algo que você gostou muito e que não deveríamos deixar de fazer, conte-nos também.
Muito obrigado e… #olhabempqbemtem
Luiz Felipe Sandins Mendonça