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O poder do bendizer – Parte 1

“Em terra de cego quem tem um olho é rei!”

Acredito que a grande maioria que lê esse texto, senão todos, já ouviu o ditado popular descrito acima. Resolvi citá-lo pois lembrei-me dele nesta manhã. Um grande amigo enviou-me uma variação deste mesmo ditado: “Em terra de egos quem enxerga o outro é rei!”

Essa frase é justamente o contexto deste texto que escrevo.

Há alguns meses, minha esposa me convidou para uma “imersão” que aconteceria em Areias, pequena cidade no Estado de São Paulo. Seria em uma aconchegante pousada chamada Fazenda Sítio Velho.

Sobre o suposto “curso” ela não me falou muita coisa… Apenas que seria ministrado pelo Alex Castro, escritor que ela acompanha já há alguns anos; e baseado em uma série de seus textos denonimada “As Prisões”.

Eu topei e o dia do encontro chegou.

Chegamos na fazenda no início da noite de sexta. Após adentrarmos o caminho de barro com seus altos e baixos, que cada vez mais se estreitava com a chegada da noite… Noite essa que se mostrava cada vez mais presente, acompanhada das criaturas que se apresentam com seus ruídos, sombras e sons vindo da misteriosa e bela mata que crescia a cada quilômetro (Ufa! Estamos quase lá). E às 18:35 atravessávamos o portão principal da Fazenda Sítio Velho.

Um encontro com diversas pessoas do Brasil. Eramos 23 pessoas dos mais variados Estados do país: Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Recife, Maceió, Pará, Paraná.

Eu não fazia muita ideia do que estava por vir. Apesar de termos tido como dever de casa a leitura de alguns textos e a missão de realizar alguns exercícios, não poderia ter certeza de nada. Somente expectativas, individuais, criadas por mim.

Exercícios de Atenção

Sentados, encostados na parede de uma grande sala, tínhamos a oportunidade de olhar uns aos outros. Não sabia, de fato, quem eram aquelas pessoas até ali desconhecidas. Para falar a verdade, em nossa chegada não sabia nem quem era o Alex. Quando o vi, fiquei na dúvida se era ele mesmo ele ou não.

Tal dúvida, entretanto, foi sanada naquele primeiro momento da sala, onde tínhamos a oportunidade de olhar uns aos outros. Alex apresentava-se e iniciava na prática as atividades que em seus textos chama de Exercícios de Atenção.

Fui o primeiro voluntário. E lá estava eu, espelho daquela que tinha sempre um sorriso no rosto. Verbalizando a todos ou, pelo menos, tentando, o que um espelho refletia quando uma pessoa está diante dele. Sem julgamentos, apenas a constatação. Era muito mais difícil do que parece ser…

Poderíamos ficar horas ali mas chegou, entretanto, o momento de nosso jantar. O céu daquela noite mostrava-se sedutor. E foi uma tarefa extremamente difícil não voltar nossos olhares a ele, naquela imensidão. Com a Lua que sorria, cosmos e estrelas cintilantes, voltamos por aquele caminho, dentro da mata que nos cercava.

Aconchego, poesia, cheiros, cores.

Tudo isso eu via naquele ambiente de paredes decoradas com os mais diferentes pratos de porcelana. Entre mesas e cadeiras, iluminadas pelo forno a lenha, que esquentava a deliciosa sopa de lentilhas e fazia companhia a todos os outros pratos que nos eram servidos.

Todos se serviram, mas Alex pediu para que esperássemos para comer. Iniciaríamos apenas quando todos estivessem sentados a mesa, com seus pratos prontos. O objetivo ali não era somente seguir uma tradição, mas um convite a reflexão.

Em nossos pensamentos, buscamos os acontecimentos que trouxeram aquela comida até o momento presente. Sua plantação, sua colheita, seu transporte, sua industrialização, sua preparação. Quantas pessoas envolvidas nesse processo… Quantos conceitos, quantas crenças… Do mais abstrato ao mais concreto, quanto trabalho foi feito para que agora nós pudéssemos comer. Devemos ser gratos, Alex dizia.

Foi ali que iniciei minha desconstrução, e talvez o mundo não volte a ser como era antes para mim.

Olhar generoso

Brincadeiras, sorrisos e bate-papos finalizaram tarde aquela noite tão gostosa. Apesar disso, sábado eu levantava antes do despertador. Às sete horas da manhã, aqueles que quisessem poderiam aprender a meditar. Eu, que sempre gostei da prática, estava ali no grupo para aprender ainda mais.

Aprendi muito, mas o dia estava apenas começando. Nosso próximo exercício seria o “Olhar Generoso”.

Cada um de nós escolheria cinco pessoas de nossa convivência, com a qual temos ou tivemos conflitos e desentendimentos. Deveríamos descrever essas pessoas, porém com as seguintes regras:

1- Não criticar a pessoa.
2- Não falar de nós mesmos.

Leia o texto completo do Alex neste link aqui.

Nos encontros realizados pelo Alex, toda fala é voluntária. Mas eu queria ser o mais participativo possível, então lá estava eu, novamente querendo falar. Mas não consegui. Pois me deparava com um universo tão belo e esplêndido. Acabava de descobrir um local que sempre esteve perto de mim, mas que apesar de ter ido até ele algumas vezes, sempre optava por me afastar, infringindo justamente as regras desse exercício: não criticar.

Eu agora estava verdadeiramente emocionado e impossibilitado de descrever aquela pessoa maravilhosa, que em meus pensamentos prendia com correntes e cadeados de críticas. Finalmente compreendia que as chaves para essas trancas são as qualidades, vitórias e bondade que todos nós temos. E por isso, vendo-me neste mundo, as palavras não saiam.

Estava maravilhado, encantado e emocionado como alguém diante da mais bela obra de arte.
Parte de meus sentimentos foram traduzidos pelas lágrimas que se libertavam de meus olhos, como as chaves que abriam os cadeados da prisão citada.

Mas fiz nova tentativa. E desta vez consegui descrever a maravilhosa pessoa de coração repleto de amor, que perdoa com facilidade aqueles que lhe pedirem com carinho e afeição. Uma pessoa que prefere enxergar o lado positivo e belo dos problemas que lhe aparecem e vive com o desejo maior de que tudo sempre acabe bem.

Desejo estar sempre com estas chaves diante dessa pessoa querida, para abrir os cadeados dessa prisão em que um dia eu a coloquei.

Clique aqui para ler a continuação deste texto…

Luiz Felipe Sandins Mendonça

Luiz Felipe Sandins Mendonça

Luiz Felipe é um empresário com alma de artista. Desde 2019, ele ajuda pessoas a terem mais saúde e qualidade de vida através dos produtos da Omnilife. Dono de uma mente extremamente criativa, otimista incorrigível, é ele o criador do Olha Bem pq Bem Tem.

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