O bem de cada dia difícil
#olhabempqbemtem… Em cada dia difícil.
Acordei bem cedo… Por mais que quisesse ficar no aconchego de minha cama, teria que levantar! Afinal, outras pessoas estavam contando com minha ajuda nas próximas horas e eu tinha uma enorme lista de afazeres para cumprir. Parecia que eu estava sentindo que o dia prometia desafios.
A ajuda para o qual fui solicitado logo cedo exigiu de mim paciência, compreensão, autocontrole. E minha primeira reunião de trabalho não seria diferente.
É bastante complicado quando você toma decisões que julga serem as melhores possíveis e, de repente, se vê diante de uma grande discussão cujo motivo é justamente terem discordado das decisões tomadas. Mas, afinal, o que foi que eu fiz de errado?
É muito comum acontecer isso quando nossa comunicação é falha, ou ainda, praticamente inexistente. Criam-se expectativas, que logo em seguida são frustradas. Com sentimentos feridos, é mais fácil sair magoado sem colocar um fim na discussão. Mas, nesse caso, teríamos que chegar a um consenso nas próximas horas. E lá se foram quase duas horas ouvindo e falando para que só então começassem a surgir pequenas concordâncias, possíveis soluções, novas decisões.
Decisões
O filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche, que gostava muito de escrever metáforas cheias de ironia e aforismos, certa vez disse que o homem livre é um guerreiro.
Pois o que é a liberdade? Ter a vontade de responsabilidade própria. Manter firme a distância que nos separa. Tornar-se indiferente a cansaço, dureza, privação, e mesmo à vida. Estar pronto a sacrificar a sua causa seres humanos, sem excluir a si próprio. Liberdade significa que os instintos viris, que se alegram com a guerra e a vitória, têm domínio sobre outros instintos, por exemplo, sobre o da ‘felicidade’. O homem que se tornou livre, e ainda mais o espírito que se tornou livre, calça sob os pés a desprezível espécie de bem-estar com que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas. O homem livre é um guerreiro. (Nietzsche, Crepúsculo dos Ídolos, 1974, p. 348-9)
Mas o que o texto de Nietzsche tem a ver com o que eu estava vivendo? O fato é que tomar decisões implica em escolher estar preso ou livre das amarras postas e apresentadas a cada um de nós no decorrer de nossas vidas. Então, por fim, para mim, todo aquele que tomar suas decisões está livre destas “amarras” e é considerado um guerreiro. Mas guerreiro é aquele que participa de uma guerra. E estar em uma guerra, convenhamos, certamente não é fácil. E era assim que eu me sentia.
Escolhas
Quanto mais escolhas tivermos, mais difícil será a tomada de decisão. (Por isso muitos não gostam de provas múltipla escolha?)
Após o almoço percebo que as medidas apresentadas ao grupo de pessoas que comigo discutia não estavam sendo aceitas. Novamente, tentei consertar aquele cenário. As horas passaram, a insatisfação cada vez mais presente. E eu pensando que minhas medidas seriam as melhores. Que beneficiariam outros. O que havia naquela comunicação para que não obtivesse nenhuma resposta?
Medo, insegurança deles? Autoritarismo de minha parte? Depois de muito insistir recebi um pedaço de resposta, sem muitos detalhes dos porquês daquelas insatisfações.
Tomei outras medidas, tentando reparar as questões para que a situação ficasse boa para todos. Mas, logo depois, alguém levanta outra dúvida com rumores de insatisfação. A mesma pessoa que antes me havia dado apenas um pedaço de resposta. Percebi, então, que aquela era como as famosas conversas sobre futebol, política e religião. Não ia adiantar discutir. Não chegaríamos a um consenso.
Equipei-me com minha “armadura de guerreiro” e, livre, tomei minha decisão. Afinal, cabia a mim aquela tarefa. Já era noite e havia gastado grande parte de meu tempo com tais problemas. Mas não acabava por aí.
Paciência
No outro dia precisaria viajar para ajudar pessoas a quem tenho eterna gratidão. Se este dia tinha sido confuso, pelo menos para o dia seguinte já estava tudo acertado… Mas, não.
O cenário todo mudou rapidamente e o que eu havia planejado estava invalidado. Realmente aquele dia estava sendo um dia difícil!
Mais tomadas de decisão. Viajar ou não viajar? Confesso que não conseguia pensar, por mais que me esforçasse para agir. Sentia-me como um guerreiro ferido e cansado depois de uma batalha, que ao seguir seu caminho já avistava outra pela frente.
Pois então não adiantava seguir adiante naquele momento. Desliguei o celular, me desconectei. Fui dormir, descansar… Afinal, “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmos 30:5).
Mas amanheceu… Mesmo assim, as dores, os medos, as inquietações não se iam. Ao contrário do que havia pensado, não acordei alegre. Afinal, os problemas ainda estavam para serem resolvidos.
O bem de cada dia difícil
Foi então que me dei conta que não podia novamente passar as horas de meu dia, como no dia anterior. Era outro dia.
Primeiro, parei de pensar nos problemas. Depois, foquei os pensamentos em mim, nos valores que importavam: honestidade, lealdade e, acima de tudo, meu desejo de cultivar amigos! Isso, sim, era importante. E neste momento, fui convidado também a me colocar no lugar do outro (ou pelo menos tentar). Pois cada um tem suas próprias dores e alegrias.
Dei-me conta que embora não pudesse com toda a clareza e certeza saber exatamente o que cada um dos envolvidos nos problemas pensava, eu podia, sim, me colocar no lugar dele, do outro lado.
E veio-me uma citação de outro grande e imortal filósofo, Aristóteles:
O ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato reflete.
Afinal, ao início de mais um dia veio, sim, a alegria. Foi muito importante para mim perceber que todo dia difícil tem o poder de nos ensinar.
Que possamos valorizar dias difíceis da mesma forma que valorizamos dias felizes. Afinal, os primeiros são nossos melhores professores.
Muito obrigado e… #olhabempqbemtem
Luiz Felipe Sandins Mendonça
Trilha sonora deste post:
Ilex Paraguariensis – Engenheiros do Hawaii
Post scriptum
A foto que ilustra este post foi um dia memorável e nada difícil: o primeiro em que vi neve de verdade, acompanhado de pessoas que amo demais. Ela foi escolhida porque ilustra de forma bem-humorada um tipo de dificuldade física, ao mesmo tempo em que demonstra, para mim, o poder que boas lembranças têm de amenizar dias como esse vivido e relatado neste post.