#Desapego (parte 2)
#olhabempqbemtem …Desapegar enquanto há tempo!
Quero ser como minha vó…
Minha vó, no auge de seus 85 anos, é bastante desapegada. Sempre foi!Desapegada e descolada. Há quem diga que ela seja desapegada e descolada até demais… Mas eu, particularmente, acho incrível o desprendimento com que ela trata suas coisas e sua própria vida.
Morte para ela não é bem um tabu. Porque ela fala sobre o assunto com tanta tranquilidade que chega a chocar meu avô e muitos outros, que ainda não se conformam de ter a idade que têm.
Ela gosta de viver, é uma senhora feliz e bem-humorada. Mas sabe que um dia a morte vai chegar, e ponto. Por isso, de vez em quando demonstra preocupação com as coisas que tem na casa dela.
“Meu filho, o que vamos fazer com esses livros aqui? Ninguém mais usa! Estão antiquados e empoeirados”. “Meu filho, precisávamos dar um jeito naquelas coisas ali em cima do armário. Eu não quero mais aquelas coisas, não”.
Ela está certíssima… Desapegada. E preocupada com o legado que vai deixar.
“Do pó viemos e ao pó voltaremos” (Gênesis 3:19).
Não importa qual seja sua orientação filosófica ou religiosa. Um belo dia, cada um de nós deixará os prazeres desse mundo, pois morreremos. Não importa se você acredita em vidas passadas e futuras, em transcendência espirital, etc. Quando morrermos, nada de material levaremos. Isso é consenso.
Isso significa que, se não desapegamos em vida, em morte este é um processo inevitável. E também pode ser inevitável se algo de repente lhe acontece, como propus em “Qual o seu legado?”.
Foi o que aconteceu com meus queridos sogros, que precisaram deixar a casa que construíram com seus filhos durante catorze anos, para morar mais próximos de nós.
Não. Não era o que eles queriam. Mas como morar em uma cidade longe de todos se sua saúde já está debilitada? Como morar em um lugar em que as pessoas te veem como o chefe, líder, empresário, síndico do lugar, se você já não tem mais condição de exercer nenhum desses cargos?
Eles tiveram que sair… E saíram às pressas. Na correria em busca de um hospital. E a casa ficou lá. Com tudo que ela tinha, com seus 25 anos de história… E doeu muito, muito mais.
Mudanças
Mudar de setor, mudar de área de estudo, mudar de cidade, mudar o visual. Mudar. Não importa o tipo de mudança. Mudanças para mim nunca são fáceis e necessitam de uma boa dose de coragem. Mas podem também ser revigorantes!
Juntar e encaixotar tudo o que você tem, transportar para outro lugar… É muito trabalho sempre! Eu me considero catedrática no assunto. Porque aos 12 anos de idade, eu e minha família contabilizamos que já tínhamos nos mudado 11 vezes. A situação sossegou um pouco quando meus pais conseguiram comprar a tão sonhada casa própria.
Aos 25 anos, entretanto, quando saí da casa deles, mudei-me 4 vezes em um espaço de dois anos. Junta, carrega, arruma, guarda. Junta, carrega, arruma, guarda.
Nesse processo, você acabe deixando muita coisa para trás. E percebe que elas não fazem falta mesmo. Mas já compartilhei sobre o meu processo de desapego no post #Desapego. Ainda tenho um longo caminho pela frente… Mas este post não é sobre o meu processo.
Sua mudança quem tem que fazer é você
Como você desapega daquilo que não é seu? Como você desapega de coisas que você não tem nenhum apego justamente porque não são suas?
É contraditório, eu sei. Se não tem apego, não tem desapego. Mas foi exatamente assim que eu me senti quando tive que encaixotar coisas que não eram minhas. Em um paradoxo sem fim!
Como selecionar? Não era possível levar tudo… Como saber o que de fato era importante? Como descartar lembranças, memórias, agendas antigas se nem mesmo eu consegui descartar as minhas?
Desapego nos olhos dos outros não é refresco, não! Eu me senti psicologicamente devastada. E foi por isso mesmo que escrevi o post anterior: Qual o seu legado.
Não importa se dei o melhor de mim. Isso não amenizou o sofrimento vivido pelos meus sogros. Porque eram eles que tinham que ter feito o que eu fiz.
Desapegue enquanto há tempo.
Ainda vale aquela máxima: “a gente nunca acha que o pior vai acontecer com a gente”. Mas, e se acontecer? E quando acontece?
Isso aprendi fazendo terapia: quando acontece, você tem que se bancar. Você tem que enfrentar a situação e perceber que ela aconteceu porque você não tomou nenhuma decisão anteriormente. Você tem que enfrentar a situação sem perder o chão, sem perder a vida, sem se perder de você mesmo. Banque-se.
Meus sogros não queriam se mudar da casa que construíram. Mas a hora chegou e fomos nós que tivemos que fazer a mudança deles. E doeu. Doeu neles. Doeu em nós. Foram momentos muito difíceis.
Por tudo isso, continuo achando que a melhor estratégia de vida é mesmo desapegar o quanto antes! E dane-se se o sistema quer que a gente compre cada vez mais coisas!
Eu sugiro que você faça arrumações periódicas na sua casa. Pode ser que você se perceba como um acumulador ou até mesmo alguém que possua “Necessidades Desnecessárias”. Sugiro que você periodicamente retire dali aquilo que não precisa mais ou aquilo que já tem demais…
Não jogue no lixo, não! Não será necessário nenhum desperdício… E tem tanta gente que precisa!
Com uma rápida pesquisa na internet, você encontrará, bem perto de sua casa, locais que recebem doações de papel, livros, roupas, lixo eletrônico, móveis etc. Basta ter um pouquinho de força de vontade.
Aliás, se você conhece instituições que recebem lixo que não é lixo, comente aqui na nossa caixa de comentários!
Acredite. Se você o fizer, sua próxima mudança será bem mais fácil!
Vamos colecionar momentos, experiências, aprendizados. E não cartas, cadernos e livros que ficam empoeirados nas prateleiras. Vamos pensar no que realmente precisamos guardar. Vamos ser conscientes de nosso legado… e desapegar.
Rachel Jaccoud Ribeiro Amaro