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Da cidade para a fazenda

#olhabempqbemtem enfrentar novas experiências de peito aberto.

E então a menina da cidade grande resolve sair do conforto de sua casa para trabalhar em uma fazenda.

Poucas pessoas sabiam que iríamos para uma fazenda autossustentável na Alemanha antes de termos chegado lá. É que contamos apenas para aquelas pessoas com quem encontramos imediatamente antes de viajar ou para amigos e membros da nossa família que, de alguma forma, estavam acompanhando o processo de mudança nas nossas vidas (já falei um pouco sobre isso aqui).

Mas é fato que 90% das pessoas que ouviam a novidade arregalavam os olhos e diziam:

  • Você?! Nunca imaginei que justamente você faria isso um dia!

Pois é… Eu… Aquela criança que fez carinha de nojo na primeira vez que colocou os pés na areia da praia… Eu… Aquela adolescente que sempre manteve restrições às atividades ao ar livre; que sempre preferiu os livros, a música e o cinema, em detrimento da praia e dos esportes… Eu… Aquela jovem estudiosa, que se formou em História, que sempre trabalhou em locais fechados, que nunca mostrou interesse por animais.

Eu… Que aos 32 anos não via a hora de chegar em uma fazenda, lançar minhas mãos a terra, respirar ar puro e sentir a exaustão de um dia de trabalho puxado.

Vários foram os motivos que me levaram até lá…

Mas aqui quero destacar dois deles, que julgo serem os principais. Primeiro, porque minhas recentes pesquisas sobre alimentação haviam feito com que eu mudasse meus hábitos alimentares e me interessasse muito por uma alimentação baseada em “comida de verdade”: aquela que não passa por processos de industrialização complexos… A comida que você cultiva, cuida, planta e colhe, e aquela que vem diretamente dos animais: ovos, leite e carnes em geral. (Já falei um pouco sobre essa alimentação aqui)

Segundo, porque havia passado meus últimos 7 anos trabalhando para empresas que me ofereciam muito pouca flexibilidade de horário e que faziam com que eu saísse de casa ao amanhecer e retornasse apenas quando o sol se punha… Foram aproximadamente 15.000 horas “encaixotada”. Porque era assim que eu me sentia.

Trabalhar ao ar livre, dava uma nova perspectiva à própria vida. Uma sensação de poder aproveitar o sol, o vento e a chuva… De aproveitar o dia como Deus havia nos preparado. Sem ar condicionado, sem ventilador, sem o conforto dos nossos lares, tetos, caixas.

E lá fui eu… De peito aberto… E, absolutamente, sem NENHUMA prática.

Sem meu marido, companheiro de viagem e aventuras, de fato, teria sido um desastre! Mais de dez vezes ele me salvou em tarefas que eu não sabia executar ou que levaria muitas horas para concluir. Mais de dez vezes ele me salvou de acidentes que eu, distraidamente, poderia ter cometido.

Mas deu certo. A acadêmica que virou camponesa; a executiva que, como disse um dos meus antigos supervisores, virou “vaqueira”, se saiu muito bem!

Claro, eu me preparei.

Levei e comprei roupas com as quais não me importava de sujar e rasgar. Comprei minha própria galocha ainda em Munique (tamanho infantil). E, quando vi que as luvas da fazenda não seguiam meu padrão de qualidade, comprei minhas próprias luvas.

Bem equipada, colhi tomates em meio a muitas teias de aranha, colhi batatas com os joelhos e mãos em terra, puxei com vigor as ervas daninhas que encontrava, depenei os patos, alimentei as galinhas, limpei a casinhola dos coelhos que estava repleta dos dejetos deles. Também tentei limpar os dejetos das ovelhas… Mas esta foi uma das tarefas que teriam me custado o dia todo e que meu marido desempenhou diariamente muito bem.

Também aconteceu que me apaixonei pela Lucy… A cadela mais inteligente, amável e graciosa que tive o prazer de conhecer. Ah… Ela é cheia de personalidade… E como tenho sentido falta dela! (Sim, eu sei… Quem me conhece está pensando: VOCÊÊÊ?! Sofrendo de amor por um cachorro?!)

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Em muitos momentos me faltou força, em muitos momentos meus movimentos foram extremamente desajeitados, ainda que 4 anos de Pilates tenham sido de imenso valor!

Achei bastante complicado, por exemplo, guardar os patos no celeiro quando escurecia… Imaginem a cena: eu corria atrás dos patos, eles iam para o lado oposto… Era sempre melhor quando eu nem comparecia no recinto para a tarefa. Meu hábil companheiro exercia a atividade em menos de 5 minutos. Se eu aparecia, facilmente colocava tudo a perder.

Na última noite, pedi ao Marcel Luft um feedback. Perguntei se de fato tínhamos ajudado na fazenda dele. Ele disse que sim. Depois, perguntei: – Marcel, você por um acaso me viu hesitar em algum momento? Eu hesitei em fazer alguma tarefa que você solicitou?

Ele respondeu com um enfático NÃO. E, naquele momento, fui invadida por uma maravilhosa sensação de dever cumprido.  

Meu maior medo era hesitar, mas não hesitei. Nem no pensar, nem no agir, nem no coração. Não senti as dores do cansaço, não senti os calos nas mãos, não me importei com as unhas que quebraram.

O cansaço era o prazer que muitos sentem quando praticam exercícios físicos. Um prazer que eu, particularmente, nunca havia sentido. Realização.

Todos diriam que esses dias na fazenda seriam desafiadores para mim. O maior desafio, entretanto, ainda estaria por vir (e este é o tema de um próximo post).

Foi uma experiência verdadeiramente nova e que quero muito repetir…

Mas só deu certo porque fui com garra e com vontade! Não fazia sentido algum ir para uma fazenda cheia de melindres, cheia de temores, cheia de nojinhos… Não é mesmo?

Que possamos sempre aproveitar a vida assim… Com maior desprendimento, sem preconceitos e julgamentos, de peito aberto!

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

 

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

8 thoughts on “Da cidade para a fazenda

  • Maria Fernanda

    Que orgulho do você! E que vontade de vivenciar esses momentos também.

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    • olhabempqbemtem

      Obrigada, Maria!! Mas nada impede de você vivenciá-los também… Basta programar direitinho as próximas férias! E você é muito mais capaz que eu! =)

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  • Eliane Vidigal

    Morrendo de curiosidade com o que “vem por aqui”! bjs

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    • olhabempqbemtem

      hahaha Que bom! Essa é mesmo a ideia! Beijos

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  • Amanda Melo

    Kkkkk muito legal !!!!
    Lembro de vc encaixotada querendo sair correndo! Mas é isso. Tudo tem seu tempo!
    O importante é não esquecermos de nós mesmos e não deixarmos nossos verdadeiros sonhos morrerem…
    Viva o seu atual momento da melhor forma que puder !!! Você merece

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    • olhabempqbemtem

      Muito obrigada, Amandinha! =)

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