Além do arco-íris: o Salar de Tara no Atacama
#olhabempqbemtem …Um lugar além do Arco-Íris.
Alguns lugares no mundo são realmente mágicos. E eu realmente achava que o Atacama era um deles… Por isso, sempre disse que só iria ao Chile quando pudesse incluir o deserto mais árido do mundo em meu roteiro… E assim foi.
Minhas expectativas eram, portanto, altíssimas! Eu não apenas queria muito estar ali, como queria poder ver ao vivo e a cores aquelas paisagens maravilhosas que sempre curti nas redes sociais, no perfil dos mais diversos amigos, blogueiros e jornalistas.
E, claro, já disse outras vezes… Expectativas são sempre um problema… Nunca é bom tê-las em um nível tão alto…
Uma semana antes de nossa chegada, havia nevado muito nas montanhas. O resultado disso era que três dos mais clássicos e bonitos passeios do Atacama estavam fechados! Respirei fundo. Tentei não me desesperar… Acabávamos de chegar e ainda teríamos tempo ali… Daria tempo de tudo voltar ao normal… Não daria? Tinha que dar!
Aos poucos, enquanto curtíamos outros passeios e paisagens incríveis, dias belíssimos quentes e frios… Tudo ia voltando ao normal… Mas era ao Salar de Tara que eu mais queria mais ir… E nem sei explicar o porquê. Ou melhor, hoje eu sei. Naquela ocasião, não.
Havíamos contratado uma empresa excelente nos quesitos qualidade, segurança e atendimento para nos guiar nos passeios: a Araya Atacama. E me enchi de alegria quando eles nos enviaram uma mensagem dizendo que o Salar de Tara estaria liberado.
Para meus companheiros de passeio, era apenas mais um. Sim, mais “UMA” paisagem espetacular do Atacama… Mas só tudo isso. Para mim, não sei dizer o porquê… Não por algo que li, ouvi ou vi… Mas algo me dizia que seria “A” paisagem mais espetacular do Atacama.
O guia da Araya Atacama
Descia do carro para nos receber um chileno com cara de viking: branco, louro, alto, olhos claros, barbudo… Um viking. Em sua cabeça, um enorme “sombreiro”. Um grande chapéu de palha todo enfeitado com tecido, plantas, miniatura de aranha e de escorpião, tranças… Um acessório único, personalizado assim como seu cajado de caminhada.
Seu falar era simpático e seu discurso como se fosse um de nós. Dizia que havia ido pouquíssimas vezes ao Salar de Tara! Mas logo percebemos que isso era mais uma “filosofia de vida” do que um fato. Ricardo fazia tudo como se fosse a primeira vez…
E tudo nele confirmava que, sim, seria o lugar mais espetacular que eu já tinha visto!
Enquanto subíamos mais de 4.300 metros de altitudes, nosso guia contava-nos tudo sobre a região: seus animais, sua terra, seu clima, seus perigos. Falava com o amor, a paixão, o orgulho e o respeito de quem tinha escolhido aquele lugar para chamar de seu.
Afinal, descobrimos que ele não era dali. Nascera em uma cidade ao sul de Santiago, em uma família de origem nórdica de fato. Mas, desde que chegara ao Atacama há alguns anos, não saiu mais de lá… E aprendeu muito… Aprendeu muito sobre os costumes e crenças das tribos da região, aprendeu sobre os limites humanos em relação a natureza… Aprendeu sobre perigo e respeito, sobre morte e vida.
Apresentava-nos os lugares com o deslumbramento da primeira visita, e com a experiência de quem conhecia cada um dos lugares mais belos e especiais da região. Ah… As minhas expectativas só cresciam!
Monjes de la Pacana
E eis que diante de nós aparecia um cenário indescritível!
Já havíamos visto paisagens lindas no caminho até ali, estradas cheias de neve com jeito de marshmallow. Mas, agora, aparecia diante de nós um vale repleto de figuras de pedra, dentre elas uma grandiosa em formato de índio. Ao horizonte, uma pequena lagoa… E, naquele momento, os únicos humanos ali éramos nós!
Havíamos chegado aos Monjes de la Pacana. O carro entrou na areia do deserto e nosso guia o posicionou em um lugar mais alto, com vista panorâmica para todo aquele lugar majestoso. Ali pararíamos para tomar café da manhã.
Não… Não há nenhuma construção humana. Nosso guia abriu a caçamba do carro e na hora preparou deliciosos ovos mexidos, esquentou leite, arrumou para nós uma linda mesa. Não me lembro de ter me sentido tão privilegiada como naquele momento, com aquele cenário diante de mim…
Nosso passeio continuou. Para chegarmos ao Salar de Tara, era preciso atravessar as dunas que surgiam a partir dali, daquele vale de esculturas de pedra, rodeado por vulcões, habitado por vicuñas. Não há um caminho ou uma estrada pré-definida. A rota é para pessoas experientes e agências competentes.
Para completar, o caminho estava cheio de neve e era preciso ter muita cautela, conhecer bem a região e respeitá-la… Porque, conforme explicou-nos o guia, todo dia a paisagem mudava.
Salar de Tara
Nossa entrada no Salar de Tara foi magistral. Nosso guia pediu que fechássemos os olhos e, ao som de Somewhere over the rainbow de Israel Kamakawiwo’ole chegamos a um paraíso…
Lembram que minhas expectativas eram altas? Pois esse momento superou cada uma delas. E foi assim que eu me senti… Em um lugar além do arco-íris…
Quando abri os olhos, uma combinação incrível de cores e cenários inundaram minha mente. Areia, terra, pedras, vegetação, água, sal, gelo, lua, sol, céu… Uma combinação de tirar o fôlego!
As fotos são incríveis, mas não fazem justiça ao local. Não conseguem demonstrar o que significa estar ali… Um local que o homem ainda não destruiu, nem sequer marcou território… Um cenário em que você sente uma energia tão grande, que só consigo definir como a grandeza e o poder de Deus, único criador de tudo aquilo.
No Salar de Tara você se sente como deveríamos nos sentir todos os dias: como um pequeno grão de areia na imensidão mundo… A qualquer momento, a natureza pode se voltar contra nós e é com muito mais respeito e admiração que deveríamos conviver com ela.
Haveria muito mais para contar sobre esse maravilhoso conjunto de cores, texturas, paz e silêncio… Mas como nem palavras, nem fotos podem descrever esse local, apenas faço o convite para que você inclua o Atacama na sua lista de viagens e sonhos.
E agradeço e recomendo a Araya Atacama. Companhia melhor para essa viagem não poderíamos ter tido!
Rachel Jaccoud Amaro Mendonça
Trilha sonora deste post:
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