A vida é dançar
#olhabempqbemtem… Dançar!
Todos nós temos pelo menos um amigo que gosta muito de dançar. Alguns deles, por gostarem tanto, até se profissionalizam. Pois é, eu tenho um desses!
Eu e meu amigo Wanderley tivemos que nos encontrar em uma bela segunda-feira para assuntos que, a princípio, nada tinham a ver com dança! É que somos sócios na empresa AnimaBoom e tínhamos uma reunião na Barra da Tijuca. Após nossa reunião, precisaria ir ao Centro da cidade. Mas eu estava a pé e ele de carro. Então, para ganhar uma carona, eu resolvi acompanhá-lo em dois interessantes momentos de sua rotina semanal.
Aprendendo a dançar com crianças
A primeira parada do meu amigo era em Botafogo. Em um lindo trabalho voluntário, ele ensinaria dança de salão para crianças. As aulas fazem parte de uma parceria da ONG Operárias de Jesus com o projeto EducARTE – uma iniciativa da UniRio que, em parceria com o Ministério da Educação, oferece aulas gratuitas de dança de salão, teatro e música, dentre outras, para crianças em vulnerabilidade social.
Chegando lá, confesso que pensei em ir embora. Já estava mais próximo do Centro e poderia seguir dali para meus afazeres. Porém, fui convidado por uma das professoras das crianças para assistir e participar da aula de dança. Atraído pelo belo projeto, resolvi ficar.
E que momento incrível aquele em que todos dançavam! Logo que comecei a assistir e participar da aula, consegui captar a incrível energia que a dança levava para aquelas crianças e para todos que ali estavam. Era uma verdadeira comunhão de aprendizagem. Pois para que houvesse harmonia entre os pares, enquanto um avançava, o outro necessitava recuar.
Dançar com as crianças, portanto, levou-me a refletir sobre duas questões:
1. Para dançar, assim como para viver, era preciso estar em harmonia
Apressado e preocupado como eu estava, demorou para me concentrar na aula de dança. E, foi apenas quando consegui fazê-lo é que o dançar fluiu.
2. Para dançar, assim como para viver, às vezes é preciso dar um passo para trás, para depois dar dois passos a frente.
É preciso ceder. Eu cedi meu tempo ao decidir ficar ali para a aula. Mas ganhei aprendizado, sorrisos e ainda mais tempo.
Aprendendo a dançar com Jaime Arôxa
De Botafogo, fui com meu amigo finalmente ao Centro da cidade. Resolvi todas as questões que precisava resolver e voltei a encontrá-lo. Mas, desta vez, na Academia Simas Dança, no Centro do Rio de Janeiro, liderada pelos profissionais Claudia Simas e Eric Selestino. É nesta academia que meu amigo Wanderley aperfeiçoa ainda mais sua arte e onde também colabora como dançarino. Eu, por outro lado, havia literalmente caído de “paraquedas” por ali. E mal podia imaginar o quanto mais estava prestes a aprender com a dança.
A Simas Dança, que costuma ser bastante movimentada por seus profissionais dedicados, estava lotada! Eu não sabia o motivo inicialmente. Mas depois descobri que justamente naquela segunda-feira o local receberia um convidado especial, um grande profissional que daria uma aula para iniciantes: Jaime Arôxa.
Se você gosta de dança de salão e acompanha um pouco essa arte, provavelmente já ouviu falar sobre o trabalho e trajetória do Jaime. Eu, por outro lado, não tinha nenhuma referência dele e, por isso, também não tinha grandes expectativas.
Entretanto, assim que ele iniciou sua aula, ganhou minha atenção e admiração. Porque cada palavra que Jaime Arôxa dizia, levava-me a crer que eu estava diante de um verdadeiro artista. Estava diante de alguém que realmente compreendia que a arte pode e deve ser ensinada e mostrada com a própria arte, provocando no aluno sentimentos, criatividade e surpresas.
Eu já tinha tido aulas de dança com outros profissionais, mas nunca eles descreveram um passo básico de bolero de forma tão poética e filosófica. Assim, com seu ensino sincero, Jaime Arôxa trouxe-me ainda mais reflexões sobre o dançar.
3. Para dançar, assim como na vida, é preciso autoconfiança
Somente com autoconfiança é que o seu parceiro poderá acreditar em você e, sem medo, abrir um espaço entre seus braços, para que haja o encaixe de um abraço. Somente a partir desta autoconfiança é possível bailar com a melodia que se ouvia.
Na dança, assim como na vida, se nossa postura estiver bem resolvida, teremos melhores resultados.
Na dança, assim como na vida, é preciso que tenhamos autoconfiança para que consigamos a harmonia que as crianças me ensinaram a ter.
Já explicamos algumas vezes a frase “O outro é o nosso espelho”. Pois é. A frase aplica-se também a dança! Se “O outro é o nosso espelho”, na dança e na vida é preciso ter autoconfiança para que o seu par saiba como agir e executar cada passo de forma harmoniosa.
A autoconfiança é também necessária na hora de recuar, de ceder. Qualquer dança flui ainda mais quando os pares se conscientizam que ora devem recuar para conseguir logo avançar. Ao mesmo tempo em que há comunhão e companheirismo, neste ato há também humildade e vulnerabilidade. Porque é preciso perceber que precisamos dividir o mesmo espaço, sem invadir o espaço do outro.
Autoconfiança, harmonia e humildade
O dia acabou e eu estava ali deslumbrado com tudo o que a arte da dança havia me ensinado. Para que o bolero ficasse bonito, era preciso autoconfiança na execução dos passos. Para que o conjunto ficasse realmente harmônico, em cada par, alguém deveria ter a humildade de baixar a guarda para só então ser conduzido e ver seus braços se entrelaçarem, em uma troca de energia sempre respeitosa, coletiva e também individual.
Assim como a vida, a dança é um paradoxo entre o singular e o coletivo. Estamos em constante troca de olhares e de energia. Para mover-nos, entretanto, cada um precisará de espaço, de acordo com suas necessidades. E é preciso respeitar esse espaço. Ora estaremos mais juntos um do outro, ora mais distantes. Mas, a todo momento, cederemos, para só depois avançar. Um passo para trás, dois passos para a frente, um passo para trás, dois passos para a frente…
Muito obrigado e… #olhabembempqbemtem
Luiz Felipe Sandins Mendonça