Leituras do Bem

A coragem de ser imperfeito

“É preciso coragem para ser imperfeito. Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser, para aceitar a pessoa que realmente sou.” – Brené Brown

Eu começo a achar que um livro é uma “Leitura do Bem” quando me pego indicando-o a várias pessoas. E tem sido assim com A coragem de ser imperfeito, da norte-americana Brené Brown, que teve toda a sua formação na área de Serviço Social e há décadas tem estudado vulnerabilidade, coragem, vergonha, imperfeição, empatia e autenticidade.

A primeira pessoa que me falou sobre a Brené Brown foi o ator e diretor Marcio Libar, de quem sou grande admiradora, durante a imersão Grand Cirque du Messiê Loyal. Confesso que, mesmo levando em grande conta o que o Marcio diz, quando ele me contou sobre a Brené pela primeira vez eu pensei: ah, não… nem vou perder meu tempo! Deve ser apenas mais uma escritora de autoajuda. Afinal, como seria possível estudar temas tão complexos e abstratos como vulnerabilidade e vergonha? Que loucura!

Pois é… Foi o que eu pensei a priori. Mas aí assisti a primeira palestra de Brené para o TED: “O poder da vulnerabilidade” e o que ela fez foi justamente derrubar minhas críticas infundadas como se tivesse conseguido vislumbrá-las dentro de minha mente. Primeiro, ela explicou como chegou à pesquisa sobre o assunto e como conseguiu executá-la. Segundo, mostrou-se tão vulnerável e sincera ao longo de sua fala, que foi impossível considerá-la como apenas mais uma “escritora de autoajuda” ou “coach (pseudo) milagrosa”. Ela falava sério. E eu corri para ler seu primeiro livro: “A coragem de ser imperfeito”.

A coragem de ser imperfeito ou Daring Greatly

Perfeccionista desde pequena, muito exigente comigo mesma e dona de um senso crítico muitas vezes até cruel, o título do livro por si só já chamava minha atenção. Fato: é preciso coragem para ser imperfeita, especialmente tão imperfeita como sou. Bastou, portanto, começá-lo a ler para sentir todos os pelos da minha pele eriçados e meus olhos molhados. Desde então o trabalho de Brené Brown tem sido referência para minha vida pessoal e profissional.

A partir de uma escrita sincera, dos relatos de muitos entrevistados recolhidos ao longo de anos e da criação de um enorme banco de dados sobre o assunto, Brené consegue convencer o acadêmico mais cético e o religioso mais descrente de que precisamos repensar a forma como estamos vivendo. Se quisermos vidas mais plenas, precisamos ser mais vulneráveis. Porque é o mostrar-se vulnerável que cria conexões mais profundas, derrubam as barreiras mais altas entre as pessoas e, consequentemente, acabam por solucionar muitos problemas tornando a vida mais leve.

“Vulnerabilidade é sinônimo de coragem. Coragem de enfrentar tudo e estar vulnerável para melhorar e não desistir”.“É muito importante o quanto nos conhecemos e compreendemos, mas existe algo que é ainda mais essencial para uma vida integral e plena: amar a nós mesmos.” – Brené Brown

A verdade é que temas como vulnerabilidade, vergonha e imperfeição são ainda tabus no meio empresarial/profissional e em nossas relações interpessoais. Não gostamos de falar sobre isso. E estão aí as redes sociais que não me deixam mentir! Tudo é feito para parecer que damos conta perfeitamente de uma vida multifacetada e milimetricamente equilibrada entre ter a família perfeita, ter realização profissional e ainda dinheiro sobrando para muitas horas de lazer seja ao redor do mundo, em restaurantes, em festas ou na frente de retângulos luminosos. Em contrapartida, vamos perdendo as conexões reais com pessoas de carne e osso, no dia a dia, olho no olho. E acabamos por abrir mão de qualquer possibilidade de criar empatia. Muitas vezes, vivemos uma vida que nem mesmo gostaríamos de viver, que nem sequer tem a ver com quem realmente somos.

A empatia é o antídoto para a vergonha

Para Brené, a vergonha é uma epidemia nos dias de hoje. E para impedir que ela nos derrube, temos que entender como ela pode afetar a maneira como trabalhamos, educamos nossos filhos, vivemos e olhamos uns para os outros.

Se soubermos lidar com a vergonha e as nossas imperfeições (presente em todos os seres humanos), se tivermos coragem para vivenciá-los, então teremos a chave para uma vida plena porque assim será muito mais fácil gerar empatia naqueles que nos cercam a começar por nós mesmos.

Como escritora, morro de vergonha de errar. Morro de medo de escrever um texto que não agrade as pessoas. Sofro para dar conta de montes de coisas e cobro-me para dominar os mais diferentes temas, assuntos e ferramentas. Porque, afinal, quem sou eu para aconselhar qualquer pessoa sobre qualquer tipo de coisa?

Mas é justamente nesse momento que o trabalho de Brené me salva e me faz reerguer. Não se trata de fazer melhor. Trata-se de estar na arena, mostrar quem eu sou, mostrar-me autêntico e vulnerável. Trata-se de criar empatia. Apenas isso.

“Eu não tenho que procurar momentos extraordinários para encontrar a felicidade – ela está na minha frente, se eu estiver prestando atenção e praticando a gratidão”. – Brené Brown

E é por isso que eu saio por aí recomendando as palestras da Brené e seu livro, a Coragem de ser imperfeito, para todo mundo. É possível tirar um peso imenso das nossas costas quando descobrimos que está tudo bem ser quem a gente é. Isso basta para me levar onde eu quero chegar ou, pelo menos, onde eu quero tentar chegar. É tentar que importa.

Sim, ao longo do caminho, eu vou fracassar, vou perder, vou sofrer. Mas escolho lutar, escolho a coragem ao invés do conforto. Escolho a vulnerabilidade, que nas palavras de Brown é o berço da inovação, criatividade e mudança. E você? Como está a sua coragem?

Obrigada, Brené Brown.

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Além de ler o livro, você pode seguir a Brené no LinkedIn e assistir as palestras dela:

TED 1: “O poder da vulnerabilidade”

TED 2: “Escutando a vergonha”

Netflix: “Chamada para a coragem”

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

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