Nos bastidores de uma celebração
OlhaBempqBemTem… estar nos bastidores de uma celebração.
Tim-Tim… Foi o som após o brinde.
Era um dia de alegria e de celebração, os adultos conversavam entre eles sobre as realizações e sonhos. As crianças também conversavam entre elas, entretanto do seu jeito… a correr, a sorrir, a aproveitar a vida como toda criança deve e gosta de aproveitar.
O dia estava realmente bonito, céu azul, brisa aconchegante e tão alegre quanto todas aquelas cores.
A rolha da garrafa de vinho deixada sobre a mesa é guardada para que, ao revê-la, esse dia seja sempre lembrado, afinal era um dia de festa…
Mas o vinho que estava naquela naquelas taças, que fechava saborosamente aquele brinde, e que fazia sorrir naquela tarde havia surgido a anos atrás, em uma vindima.
Uma longa história
Antes, para que aquele vinho existisse, um ancestral, ao ver aquelas terras, decidiu ali plantar videiras, construir uma adega e dedicar-se a preparação do vinho… a muito tempo atrás. E não posso narrar muito mais do que isso, pois além de não ter vivido aquele tempo, não sei de mais detalhes. Entretanto, sobre o vinho que estava nas taças desta celebração que acabei de narrar eu posso dizer mais… Afinal, estive em sua colheita e refleti muito nas linhas das videiras em que estive, em cada corte dos cachos que segurei.
Foram muitos baldes, centenas deles.
Começamos cedo, levantamos antes do sol, e quando ele já se mostrava por trás daquelas montanhas do Douro, eu já estava ali e decidia aproveitar com verdadeira intensidade e alegria aquele momento. E por ser tamanha, eu não pensei em medir, e partilhei minha alegria com todos que ali também estavam.
Como as uvas que nos proporcionam um resultado doce e saboroso, vindo de um solo mais árido e seco, partilhar essa energia foi como uma semente plantada em solo similar. Pois a tarefa de vindimar é árdua e dura. Mas, sem sequer esperar por isso, uns dias à frente eu já colhia presentes de grande valor, que dinheiro nenhum poderá jamais pagar. Ali aprendia mais uma lição: transmitir força, energia e alegria de maneira natural pode inspirar e deixar mais leve e divertida as nossas tarefas.
Muitos aprendizados
As videiras são verdadeiras escolas. De pronto eu posso dizer que nelas eu percebi que aquilo que nos cerca pode indiretamente reverberar em nossos resultados finais. Isso é fácil de perceber quando ao apreciarmos um vinho sentimos tantos aromas, e sabores dos mais variados, além daquele de seu fruto principal, a uva.
Percebi também que os cachos mais cheios e com uvas maiores são justamente os que apresentam mais ramificações. E isso me fez pensar que quando trabalhamos em equipe, criando elos com outras pessoas, podemos ter mais resultados e mais frutos, como um grande cacho de uvas.
Enquanto colhia aquelas uvas, lembrei-me que certa vez plantei mudas de uvas. Contudo, essas uvas que plantei não cheguei a colher como colhia aquelas uvas daquele instante. Então refleti que alguém sempre poderá colher aquilo que plantamos. Assim, estar atento a isso pode me ajudar a plantar aquilo que um dia desejarei colher.
Essa colheita já tinha parte de mim, mas eu tive maior consciência disso somente depois, já no processo de pisar as uvas, também conhecido como lagarada, como me informaram. A pisa das uvas é um dos processos mais tradicionais de vinificação. É durante ele que a polpa da uva se separa da casca e das sementes, passando pelo processo de fermentação antes de amadurecer nos barris e tanques de inox.
Durante mais ou menos cinco dias, caminhei periodicamente naquele tanque de uvas. Começamos com duas horas por dia, depois passamos para 30 a 40 minutos, quatro vezes ao dia, cada vez com mais cuidados. E foi em meio a esses dias que percebi a surpreendente responsabilidade e privilégio que tinha ao fazer parte de todo esse processo que chamo de bastidores da celebração.
Nos bastidores de uma celebração
Com muita emoção ouvi, senti e vi o momento do “tim-tim” que narrei logo no início deste texto… Tudo isso enquanto caminhava dentro daquele tanque com as uvas cada vez mais densas e perfumadas que acariciavam minhas pernas.
Agora, todas as vezes em que beber um vinho, imaginarei suas etapas anteriores, antes dele chegar até a mim… Agora, todas as vezes que beber um vinho, sentirei o peso da responsabilidade e a gratidão por tê-lo diante de mim.
Você já pensou nisso? É uma forma de valorizar ainda mais o que comemos e bebemos. Afinal, por que não pensar assim com todos os outros alimentos e objetos que nos cercam? Meu desejo é que de alguma forma essa reflexão possa inspirar a outras pessoas.
Muito obrigado a Quinta do Vilar que me proporcionou viver esta rica experiência. E um brinde ao Salta Piscos, saboroso vinho produzido pela Quinta, repleto de sentimentos, carinho e cuidado como poucos de hoje em dia.
Muito obrigado e…
#olhabempqbemtem
Luiz Felipe Sandins Mendonça