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La Sagrada Familia

#olhabempqbemtem quando igrejas, apesar da grande quantidade de turistas, conseguem manter sua razão de ser: locais de culto, devoção e reflexão.

Quem viaja comigo sabe que terá que entrar em várias igrejas. Como historiadora da arte, o hábito não é apenas inevitável… Muitas vezes ele é o próprio motivo da viagem! Conhecer igrejas é parte importante do roteiro, ou até o motivo de tê-lo escolhido.

É claro, portanto, que eu crio muita expectativa ao planejar a ida a determinadas igrejas. E, naquelas que são bastante turísticas, minhas altas expectativas são quase sempre frustradas. É que é bastante comum eu ficar irritada com o comportamento dos turistas em locais religiosos…

Meu intuito ao visitar igrejas não é prestar culto. É, sim, a arte, a história e o pensar no sentimento que levou tantos homens a dedicarem suas vidas à construção desses lugares. Esses locais foram construídos para serem locais de devoção, para representar um Deus, uma força, uma crença. É preciso, portanto, respeitar o motivo para o qual esses lugares foram construídos e sua função: a de culto, a de introspecção e de reflexão.

Não se trata de religião. Respeito é o que todos deveríamos ter quando entramos em qualquer local religioso, seja ele cristão, judaico, mulçumano, etc.

Mas muito do brilho de várias construções religiosas se perde pela presença de turistas que invadem o recinto com barulho, selfies e fotografias que são tiradas de forma automática… Sem que se reflita sobre o que se está fotografando. A atitude desses turistas descaracteriza completamente o ambiente visitado. E pode tornar uma experiência rica, em uma experiência vazia.

Ao olhar para o mar de turistas no entorno e no interior da famosa La Sagrada Familia, em Barcelona, meu coração ficou apertado. Pensei: “mais uma vez ficarei frustrada, mais uma igreja que sempre sonhei em conhecer, descaracterizada pela massa de turistas…”.

Olha bem pq bem tem. Algo mágico acontece na La Sagrada Familia idealizada e iniciada por Antoni Gaudí. Sim, ela está sempre bastante cheia… Sim, ela é dona de uma originalidade genial que nos encanta olhar… Sim, os responsáveis pelo espaço colocam música muito apropriada para criar um clima… Mas, para além de tudo isso, há um pequeno espaço reservado apenas para utilização dos fiéis.

Neste pequeno espaço, não são permitidas máquinas fotográficas nem áudio-guia. Não é um espaço fechado. Mas, incrivelmente, ali você consegue ouvir o silêncio. Ali é possível um momento de reflexão. Ali entendemos o real motivo por trás da criação de Gaudí.

Entrei neste espaço e me surpreendi com o BEM que havia ali. Não era o motivo de minha ida até lá… Mas sentei, fiz uma oração, me senti verdadeiramente BEM. Saí dali e segui feliz com o meu passeio.

Que as igrejas que visitamos possam sempre ter essa atmosfera. Que elas não percam sua razão de ser.

Parabéns àqueles que permitiram que La Sagrada Familia pudesse manter com dignidade sua função.

Por Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Rachel Jaccoud Amaro

Rachel é historiadora por formação, escritora por vocação e fotógrafa nas horas vagas. Ama quebrar paradigmas e, exatamente por isso, abraçou o Olha Bem pq Bem Tem como projeto de vida.

One thought on “La Sagrada Familia

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