A história de uma certeza

#olhabempqbemtem …Em meio a incertezas, ter a certeza daquilo que se quer.

Tudo o que ela sabia era que não queria estar mais ali. Tinha certeza de que não se arrependeria. Mas até isso era bastante desconfortável. Certeza era algo que não costumava ter… Afinal, de que lhe valiam certezas? Sua música preferida já alertava com uma frase de Jean-Paul Sartre: “A dúvida é o preço da pureza”. E continuava: “É inútil ter certeza”.

Curiosamente, na hora do almoço ela ganhara um biscoito da sorte com a frase: “A vida nunca poderá dar segurança, só pode prometer oportunidades”. Pois então… Era isso que ela queria. Por mais medo que tivesse, por mais que hesitasse, ela queria oportunidades, e não certezas.

O que faria? Como faria? Acabara de descobrir que não seria demitida como ela achava que seria ao longo dos dois últimos anos!

Ela repassou todo o filme em sua cabeça. A demissão repentina de sua companheira de trabalho por um chefe que havia tão recentemente assumido a pequena equipe de duas pessoas. Eram dias em que tinham muito trabalho a realizar, mas ele não se preocupou sequer em perguntar por isso. Lágrimas rolaram em meio a tanta correria.

Ela lembrou o quanto temia a demissão. O que faria se isso acontecesse? Voltar para o meio acadêmico não era uma opção. Outra empresa de petróleo e gás? Era uma possibilidade, afinal, já tinha sido chamada para algumas entrevistas, ainda que com o mercado bastante ruim. Mas é sempre muito mais fácil saber o que não se quer. E ela sabia bem o que não queria.

Determinada, deu o melhor de si e seguia se destacando. Participou de reuniões importantes que incluíam reestruturação de estratégias, políticas e leis. Representando uma indústria que ela não queria representar, chegou a conversar com um Governo no qual ela não acreditava, nem confiava. Cumpriu metas. Superou expectativas.

Foi bom. Foi difícil. Mas ela não deixou de olhar para os lados… Buscou possibilidades.

“Se nada der certo, será preciso um plano B” – ela pensou.

Em meio a correria do trabalho e as horas que não passavam, ela tinha a internet: uma janela para o mundo. E, ao olhar essa janela, ela descobriu pessoas como ela, com os mesmos desejos e anseios. Com desafios parecidos, com coragem invencível. Ela descobriu pessoas que estavam correndo atrás do que queriam.

Mas e ela? O que ela queria? O que ela realmente queria?

Ela queria estar no mundo. Ler mais, aprender mais, conhecer mais, viver mais. Ela queria tempo. Tempo pra pensar. Tempo para construir. Tempo para viver para si.

Coincidentemente (Mas será que coincidências existem?), ela foi convidada a participar de uma oficina mágica. Nessa oficina, ela conheceu um mestre que lhe apresentou uma nova forma de ver o mundo. Ele dizia: “O outro não existe”. “O outro é o seu espelho”. “Jamais serás aquilo que não és”.

Jamais serás aquilo que não és.

A ficha caiu. Ela jamais conseguiria escrever e-mails rápidos, sem qualquer emoção, como queriam seus chefes engenheiros. A ficha caiu. Ela tinha se saído muito bem naquela empresa, mas sentia-se incompleta. Ela era mais. Ela queria dar muito mais de si. Ela jamais conseguiria ser feliz naquele lugar.

Foram vários meses de planejamento e reflexão até que o plano B virasse o plano A. Ela tinha tanta certeza de que seria demitida. Agora que estava tudo pronto e resolvido em sua cabeça, queriam continuar com ela? Não… Ela não podia aceitar.

Como diz a canção, “ela tinha a força de quem sabe que a hora certa vai chegar”. E teve uma ideia que colocaria em prática. Afinal, a vida tem dessas coisas… Tem percalços, mas tem destino… (Mas será que destino existe?).

Conversar com seu próprio chefe não era uma opção. Afinal, ele não se interessava por seu trabalho. Eles não conversavam. Mas deveria significar alguma coisa o fato dela ter construído um bom relacionamento profissional ao longo dos últimos anos com o atual presidente da empresa.

Foi preciso conversar e dizer que ele não precisaria mais dela. Foi preciso conversar e dizer que aquele trabalho que ela fazia muito bem-feito, poderia ser muito bem-feito por outras pessoas que ali estavam e que ali gostariam de ficar. Foi preciso conversar e dizer que ela queria e precisava viver outras coisas. Foi preciso ter certeza para que ele acreditasse. E ele entendeu.

É… Talvez a certeza não seja tão inútil assim… Mas a dúvida continuaria sendo sua mais fiel e divertida companheira em busca de novas oportunidades.

A hora certa demorou, mas chegou. Ela respirou fundo.

O mundo estava à sua espera e sua história estava apenas começando.

“To be continued”… Continua…

Rachel Jaccoud Amaro Mendonça

Trilha sonora deste post:

Forrest Gump Suite – Allan Silvestri