Feito com amor
#olhabempqbemtem… Quando a aniversariante participa com seus desenhos da decoração de sua festa.
Em meu último final de semana, um curioso detalhe fez-me refletir sobre algumas questões…
Eu estava em uma festa infantil. E, antes de contar sobre o curioso detalhe que me chamou tanto a atenção, preciso explicar o que eu estava fazendo naquela festa… Eu estava trabalhando.
Mas é como diz aquele velho provérbio italiano que me acompanha desde há muito tempo nesta trajetória: “Quem faz o que gosta, nunca vai trabalhar na vida”! Bem similar àquele outro, atribuído a Confúcio: “Escolha um trabalho que você ama e você nunca terá que trabalhar um dia sequer na vida”.
Pois bem… Há mais ou menos 15 anos fui apresentado ao mundo da animação infantil. Comecei a trabalhar como animador de festas na empresa Animasom, no Rio de Janeiro, a qual tenho orgulho de chamar de minha escola. Foram mais de 10 anos de aprendizagem, de momentos eternizados, e do surgimento de grandes amizades.
Foi ali também que tive o grande privilégio de conhecer e me divertir com as criaturinhas mais puras e inocentes que conheço: as crianças. São elas que, além de me divertirem, até hoje me ensinam como ninguém!
Talvez seja por isso que, mesmo após ter saído da Animasom, acabei mantendo um vínculo com este meio. Outras oportunidades apareceram e hoje tenho minha própria empresa no ramo: a Animaboom. E ainda faço questão de animar algumas festas para me divertir com meus amiguinhos.
Não posso chamar de trabalho pois, como palhaço que sou, essa atividade é uma alegria para mim: uma verdadeira diversão. E por isso citei o provérbio italiano: não trabalho quando o assunto é animação.
No último fim de semana, eu estava animando.
A festa de cinco anos de uma menininha divertida e encantadora estava apenas começando.
Ali naquele início éramos 5: eu, mais dois animadores, a pequena aniversariante e sua irmã, no máximo dois anos mais velha. E foi aí que reparei no singelo e belo detalhe…
A aniversariante nos mostrava a mesa do bolo de sua festa, que tinha como tema o desenho PJ Mask. E, no painel atrás da mesa do bolo, estavam os três personagens principais do tema, desenhados, recortados e colados a mão. Menino-Gato, Largatixo e Corujita tinham sido desenhados com maestria pela pequena menina de 5 anos de idade, que agora os mostravam para nós, orgulhosa de seu feito.
Foi sua irmã que completou dizendo que aquele painel havia sido feito por elas e por sua mãe. A aniversariante desenhou e coloriu os seus três heróis, a irmã cortou e colou os demais detalhes. E, claro, ambas com a ajuda e companhia de sua mãe.
Foi somente naquele instante que percebi que aquela decoração havia sido feita desta forma. Confesso que, se não tivessem me contado, não teria percebido.
E, mais uma vez, as crianças me ensinando…
A primeira lição veio ao notar a alegria e o orgulho das crianças por elas mesmas terem produzido o painel da festa. Não posso dizer que não havia nada demais naquela decoração. Porque, afinal, havia e muito!
Como disse, já estou neste mundo de animação infantil há mais de 15 anos. E já tive a oportunidade de animar festas de filhos de famosos, ou com filhos de famosos presentes. Já brinquei, por exemplo, com a filha da Xuxa e com os filhos do Luciano Huck, dentre outros. Portanto, posso dizer com tranquilidade que já me deparei com superproduções, com decorações grandiosíssimas.
Naquele momento, entretanto, estava diante de uma decoração simples, feita pela aniversariante, sua irmã e sua mãe (ou pelo menos foi assim que as crianças me contaram). E, em nenhum momento, aquelas crianças se sentiram menores por causa disso. Muito pelo contrário. Era nítido o sentimento de alegria, de felicidade em cada detalhe que nos mostravam.
E como estava bonito! Como eu disse, se não tivessem me contado, talvez jamais saberia que havia sido feita daquela forma.
Havia beleza e simplicidade na decoração. E, sem sombra de dúvidas, também havia muita verdade e vontade para que tudo ali estivesse lindo. Houve, certamente, amor daquela família. O mesmo amor que pude ver presente no brilho alegre e inocente dos olhos daquelas duas crianças que me contavam todos os detalhes.
Talvez a história não tenha sido exatamente assim… Afinal, um trabalho destes requer uma agilidade que talvez crianças não tenham. Mas, o ponto importante aqui é que este foi o olhar delas diante desta história.
E, por ter sido assim, me arrisco em dizer que esta será para elas uma festa inesquecível. Exatamente por terem cuidado da decoração… E não acredito que algumas das festas cheias de superprodução das quais participei tenham sido lembradas por seus aniversariantes anos mais tarde. Ou, pelo menos, não da mesma forma que esta será lembrada por estas duas meninas que tem a sorte de terem pais que valorizam esse tipo de coisa.
Mais uma vez, as crianças me ensinando.
Continuamos a festa nos divertindo, brincando.
O tempo estava chuvoso. Mas seguíamos com nossa missão de fazer daquele dia o mais feliz para a aniversariante e todos os seus amiguinhos.
Por conta deste tempo instável, montamos um “clubinho” junto das cadeiras, tendo como teto um emborrachado que tínhamos. Algo bem simples. Uma verdadeira criação de criança.
E nos divertimos planejando quais as brincadeiras iríamos fazer, falando de nossos desenhos prediletos, dentre outras coisas de criança, antes que chegassem os amigos da aniversariante.
E tudo foi perfeito, pois a chuva resolveu dar uma trégua e começaram a chegar os amiguinhos.
As brincadeiras continuaram: teve piscina, corda, circuitos, caça ao tesouro. E posso garantir que me diverti com todas aquelas crianças, assim como acredito que elas se divertiram conosco.
Mais uma festa chegava ao fim. E fomos presenteados com a alegria, simpatia e educação dos pais maravilhosos das duas meninas. Já era de se esperar… Pois, pela minha experiência, na maioria das vezes os pais são o retrato do comportamento de seus filhos ao longo da festa… E tanto a aniversariante quanto sua irmã eram crianças doces, alegres e educadas.
Sempre gosto de pensar sobre as festas que animo depois que acabam.
Imagino os mais variados cenários, repasso as brincadeiras feitas, penso em brincadeiras que eu poderia ter feito. Isso é importante para cumprir com a missão que sempre prometo aos pais quando estes buscam os meus serviços.
Enquanto relembrava, reaprendi que para se divertir, para brincar e ter uma tarde alegre e feliz, bastam simples detalhes, somados a dedicação, pureza e desejos verdadeiros. Nada mais é importante para que esses momentos sejam realmente inesquecíveis.
Já falamos um pouco sobre isso em Brincar com o que se tem. Mas voltei a refletir sobre a questão quando lembrei das meninas me contando sobre a decoração da mesa do bolo. Comprovei quando estávamos em nosso “clubinho”, rodeados de cadeiras e um teto improvisado. Tive certeza quando lembrei de como as crianças se divertiram usando apenas a imaginação… Enquanto brincávamos de pique-pega, na piscina ou de cabo de guerra… O mais importante era a verdade de estar ali, enxergando esse mundo mágico e infinito que é ser criança.
Não é de hoje que me alegro aos perceber tudo isso. Afinal, como eu disse, faz tempo que o provérbio italiano me acompanha… Eu percebo tudo isso quando estou brincando nas festas ou com meus sobrinhos. Faz tempo… E não é trabalho, é prazer.
Agora, inspirado nesta última festa, pensarei duas vezes antes de trocar um ato simples, feito com amor, dedicação e verdade, por uma “superprodução”.
Muito obrigado e… #olhabempqbemtem
Luiz Felipe Sandins Mendonça