Copa do Mundo
#olhabempqbemtem …Na Copa do Mundo.
Aos 33 anos de idade, esta é minha 8a Copa do Mundo. Não lembro das duas primeiras. Mas dentre as demais, posso dizer que nunca vi o povo tão desanimado como desta vez.
E isso é bastante curioso… O que houve? Não é o Brasil o país do futebol? O que mudou?
Pra quem não liga muito para futebol como nós, e resolve viajar pelo mundo, perde a conta de quantos sorrisos sem graça foram necessários dar sempre que um comentário sobre o futebol brasileiro é feito. Não importa onde vamos, este é sempre um ponto de diálogo em comum.
Na Argentina, nossos motoristas do Uber invariavelmente comentaram o quanto gostam do futebol brasileiro. É muito bonito! E chegaram a nos dizer que é o governo que insiste em rivalidade, porque, da parte deles, não há nenhuma! Quem é melhor? Pelé ou Maradona? Messi ou Neymar? Não importa… O que importa é que temos os dois!
Em Marrocos, meu marido foi confundido várias vezes com um jogador de futebol que até hoje não sabemos quem é…
Na Europa, é comum não saberem nada sobre o Brasil, mas sobre o futebol, eles sempre sabem (e nós, não).
Por tudo isso, dói um pouco ver o desânimo de nosso povo com nossa seleção e o campeonato mundial. Por mais decepção que tenhamos tido nos últimos anos, vale a pena abrir mão de algo que está tão vinculado a nossa própria identidade?
Vejo com muito bons olhos esse momento de decepção do povo brasileiro.
Como historiadora, não posso negar que o futebol é o maior exemplo da política do Pão e Circo no Brasil. Assim como os imperadores romanos financiavam os espetáculos de gladiadores na Roma Antiga para desviar a atenção do povo dos problemas que de fato existiam, nosso governo republicano sempre beneficiou-se do amor dos brasileiros pelo futebol.
O auge deste benefício foi durante a Ditadura Militar, na Copa de 1970, quando a maior parte da população celebrou a vitória brasileira sem sequer se dar conta do governo repressor que estava no poder naquele momento, que torturava, matava e roubava por debaixo de todos os panos e máscaras de desenvolvimento.
O momento era de festa… E, ao mesmo tempo, não.
Por tudo isso, enche-me de esperança ver que hoje uma boa parcela da população está indignada e se recusa a sequer torcer pelo próprio país.
Podemos considerar que nos últimos anos a educação conseguiu passar a mensagem de que não podemos nos deixar ludibriar por qualquer evento, mas sim que devemos exercer nosso senso crítico? Podemos considerar que hoje a população está realmente mais preocupada com sua qualidade de vida e cansada de toda a corrupção coordenada por nossos governantes, e que incluem todas as esferas do futebol?
Não sei. Ao olhar para o restante do cenário que hoje vive o Brasil, e apesar daquela pontinha de esperança já mencionada, creio que o desânimo tenha mais a ver com o cansaço e as decepções vividas, com a nova geração desapegada e descrente que têm surgido, e com o vexame do 7×1 vivido na última Copa, do com o surgimento de uma nova consciência política.
Mas não importa qual seja o motivo, acredito que brasileiros deveriam continuar vendo o enorme bem que existe na Copa do Mundo (apesar de todos os defeitos do mundial).
Tenho ótimas recordações das Copas que vivi. Mais do que das vitórias, recordo-me da família e dos amigos reunidos. Dos gritos e sorrisos desesperados a cada lance. Da alegria nos rostos das pessoas. Da comida e da bebida preparada com carinho para aquele momento e compartilhada entre todos. Por que abrir mão disso?
Mais do que uma política de pão e circo, o futebol tem mudado a vida de milhões de brasileiros que tem neste esporte seu sonho, sua meta e seu talento. Por causa desse esporte, muitos garotos e garotas saíram da zona da pobreza, mudaram o destino de suas famílias, encontraram um sentido na vida. Exemplos não faltam!
Se utilizado como sabedoria, o futebol poderia levar nossas crianças ainda mais longe… Para um futuro ainda mais bem-sucedido. E não falo isso pela fama e dinheiro que os melhores jogadores conquistam. Falo pela disciplina que o esporte pode ensinar, junto com a resiliência e o senso de comunidade que nosso povo tanto precisa para realmente se tornar aquilo que deseja ser.
Não acho que ganharemos muita coisa se transformarmos o futebol em vilão. Para quê?
Vamos, sim, manter nosso senso crítico ligado e aguçado. E não vamos esquecer dos inúmeros problemas que assolam nosso país.
Mas, nós, brasileiros, somos conhecidos por nossa alegria, simpatia e senso de humor. Em qualquer lugar que estejamos, somos sempre recebidos com sorriso e uma boa dose de admiração. Não podemos abrir mão disso. Não podemos deixar que a amargura tome conta de nossa personalidade tão gentil e feliz.
Vamos nos unir, torcer, gritar, comemorar, viver juntos esses momentos. Afinal, amamos fazer isso! O futebol é um patrimônio cultural e imaterial do nosso país. Já fizemos história com ele! E portanto, ele deve continuar sendo celebrado e cuidado por todos nós!
Boa Copa a todos! Na vitória ou na derrota (ou no empate), estamos juntos!
Rachel Jaccoud Amaro Mendonça
Muito bem posto e colocado. Valeu!!!
Obrigada pelo seu comentário, Dirceu! Que bom que gostou!