Artistas de Verdade
#olhabempqbemtem …Nos artistas de rua que “afinam” seus instrumentos e voz com a VERDADE da inspiração.
E em mais uma estação parava o metrô. Um lugar ficou vago no vagão em que eu estava e ali sentei-me, bem próximo a porta. Porta essa que se abriu, e por ela pude ver algumas pessoas que saíram e outras que logo depois entraram… Um pequeno grande detalhe de organização e respeito que desejei que houvesse em todas as estações de metrô.
Passaram-se alguns segundos e, enquanto o trem continuava seu caminho se movimentando, também se movimentou aquele homem… O último a entrar, que parou de costas para a porta e de frente para todos naquele vagão.
Logo em seguida, vi a coordenação de seus dedos e mãos em um belo e forte dedilhado em seu violão. E eis que o som era como um laço que prende uma fera, ou uma rede que pesca um peixe… um cardume… Sim! Essa é uma melhor ilustração.
Cada peixe, ou melhor, cada passageiro dentro daquele vagão via-se repentinamente envolto nas notas que eram tocadas pelo dedilhado daquele homem, junto ao seu instrumento musical. Um ritmo latino. Ele era um espanhol. Logo pude comprovar porque o violeiro acrescentou sua voz como parceira daquele ritmo.
E assim pude ver mais cheia a sua “rede”.
Ele mesmo talvez não tenha conseguido acompanhar tudo o que aconteceria logo em seguida… Seus olhos muitas vezes encontravam-se fechados. E quando abertos, eram mirados a um infinito que muitos dali talvez não vissem. Eu sei, entretanto, o que naquele instante aquele homem via, respirava e mostrava em sua voz, em cada acorde…
Ele via a verdade da inspiração! Era ela que o guiava… E era trazida por seus olhos fechados, junto da feição que todos ali podiam ver… olhar… admirar.
Verdade… Era isso que eu e todos que ali estavam podiam ver naquele Artista de Verdade!
Se recorrermos a um dicionário, veremos que “verdade” é:
Fonte: https://www.dicio.com.br/verdade/
Verdade. Naqueles olhos eu vi o mesmo olhar que um dia o grande professor Messiê Loyal me mostrou em um vídeo de uma apresentação do ilustre cantor Luciano Pavarotti.
E o artista havia conquistado sua plateia…
Antes mesmo de terminar sua apresentação, alguns espectadores foram em sua direção para “contribuir” da maneira que lhe cabiam.
É certo que essas contribuições são o motivo principal da existência dos artistas de rua. Mas ali percebia-se claramente que o dinheiro era apenas uma consequência… Era apenas o reconhecimento pela arte do artista.
Observei, inclusive, uma mulher que pareceu fazer questão de contribuir sem que o artista pudesse perceber! Pude acompanhar todo o processo… A mulher tirou o dinheiro de sua bolsa e segurou-o. Assim que o artista se posicionou fora de seu campo de visão, ela pôs sua contribuição dentro da entreaberta capa de violão que o artista tinha em suas costas… Como se aquele fosse o “chapéu” do artista!
Assim como eu, aquela mulher deve ter percebido que dinheiro não era a maior intenção do artista. Aquele homem não pedia. Ele continuava a tocar seu violão para nós e para si, pela arte… Introspectivo e, ao mesmo tempo, tão presente!
Ele estava ali por paixão, e pela vontade de mostrar sua arte para quem quisesse ver. Aquele vagão era o seu palco, seu picadeiro… E todas aquelas pessoas eram uma plateia, convidada a enxergar a Verdade por trás da atuação daquele Artista. A Verdade que encanta, que comove, que emociona! Sem rodeios, sem chantagens, sem metades.
E lembrei-me de uma de minhas reflexões durante meu curso de Palhaço… (Sim, eu fiz um curso de palhaço! Mas isso é tema para um outro post… =0):
Não existe “MEIO ARTISTA” porque não existe “MEIAS VERDADES”!
Ao fim da apresentação, junto com os últimos acordes e som de sua voz, o artista demonstrou o olhar e feição de que parecia voltar para aquele instante, para aquele agora…
A plateia automaticamente respondeu com aquilo que todos os artistas esperam ao final de cada apresentação… Palmas! Aplausos!
O “violeiro cantante” sorriu. E, ainda envolto por aquela verdade que acabávamos de ver, ouvimos suas palavras de agradecimento… Gracias! Gracias!
Ele disse em seu próprio idioma, sem se preocupar em falar o francês da cidade onde estava, a bela Paris.
Mas assim funciona a verdade quando temos esse contato direto com ela… Quando somos realmente aquilo que somos, não nos escondemos, não nos preocupamos com os tantos “Se…”.
Quando agimos com a franqueza de uma criança, não há idiomas que nos impeçam de nos fazer entender!
Que essa verdade exposta e contada aqui nos sirva de modelo e inspiração para quando estivermos em nossos palcos, sejam eles quais forem. Que sejamos sempre verdadeiros nos palcos da vida, que certamente cada um de nós sabe distinguir. Que possamos sempre lembrar que o palco é lugar para Artistas de Verdade.
Muito obrigado e… #olhabempqbemtem
P.S: E, leitores queridos, se vocês tiverem curiosidade em saber qual foi minha reflexão quando fiz meu curso de Palhaçaria, deixe-nos um comentário. Será divertido! =0)
Luiz Felipe Sandins Mendonça