Anjo da Guarda

#olhabempqbemtem …Ser um anjo da guarda para o outro. Fazer o bem. Aproximar-se, cuidar, acompanhar.

Eu e você certamente já vivemos situações em que podíamos ter ajudado. Seja um amigo que sabemos estar em dificuldades, ou um desconhecido na rua que nos pede dinheiro para um café…mas não ajudamos. “Estou atrasado para o meu compromisso”…”Se der o dinheiro, provavelmente ele vai comprar cachaça”… são desculpas e argumentos que usamos para nos justificarmos.

Que tal essa parábola?

A Bíblia é uma coleção de textos religiosos de valor sagrado para o Cristianismo. Mesmo que você não seja católico ou protestante, certamente já ouviu falar dela e quem sabe de algumas de suas histórias. Para mim, ela é sobretudo um livro que conta o dia a dia de homens e mulheres como nós, com seus dramas, dúvidas, inquietações…

Em uma dessas histórias, Jesus Cristo, ao ser indagado sobre quem deveríamos considerar e amar, contou uma parábola (parábola é uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia).

Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto…Um sacerdote..quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita. Mas um samaritano…teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas…levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dinheiro ao hospedeiro e disse-lhe: “Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver”.

Ou seja, aquele samaritano foi para aquele judeu caído a beira da estrada alguém que lhe fez o bem até o final: aproximou-se, cuidou, acompanhou…

Toda vez que leio ou lembro dessa parábola fico a me perguntar com quem no dia a dia me identifico? Sou o sacerdote, o levita ou o samaritano?

O anjo de Barra Mansa

O samaritano foi um anjo da guarda para o homem caído a beira da estrada… Sim, existem  anjos da guarda nesse mundo… Não, não estou falando de anjos no sentido literal da palavra, mas de homens e mulheres, como eu e você, com quem cruzamos em nossa caminhada e que se apresentam a nós como tais… Sem eles, talvez tudo fosse mais difícil.

Em 1991, um desses cruzou o caminho de minha família. Eu, minha esposa e filhas (na época com 3, 5 e 6 anos) voltávamos de São Paulo para o Rio, quando nosso Fiat 147 (sim, esse mesmo rsrs), enguiçou num trecho de muitas curvas entre Resende e Volta Redonda, num trecho sem acostamento.

Esse carrinho era especial. Presente da igreja que liderava naquele início dos anos 90 quando nosso chevetinho preto fora roubado… Mas até quem é especial apronta. E lá estávamos nós, angustiados, num tempo em que celular não existia (benditos celulares!!!). E, foi então, que conhecemos o Anjo de Barra Mansa… Ele parou atrás de nós… Seu carro era um Fiat Tempra lindíssimo e novo, lançado no mercado naquele ano.

Ele logo surgiu com uma corda em que uma ponta foi amarrada no nosso para-choque, e a outra no do seu modelo zero. Durante o reboque, algumas vezes nossos carros chegaram a se “beijar”. Foi assim  que ele nos levou a um lugar mais seguro, onde buscou um telefone próximo para chamar um mecânico.

Ficou conosco até o conserto do carro e, após gastar horas conosco na estrada, seguiu seu caminho até sua casa em Barra Mansa. Nunca o vimos de novo. Mas para nós ele tornou-se eternamente, o Anjo de Barra Mansa.

Dá o que pensar…

A história desse anjo, bem como outras que você certamente já conhece ou experimentou, comprovam a atualidade da parábola bíblica citada.

Quem dera nossa rotina fosse quebrada por gastarmos tempo ajudando pessoas, ouvindo-as, oferecendo nosso ombro… “Não consegui fazer nada do que planejei. Por quê?” Se a resposta for: “Estava no meu papel de anjo da guarda! ”, estaremos de parabéns!

Gastar tempo com o outro não é simples. Parar nossa rotina e aproximar-se, para muitos é um desafio e tanto. Mas faz parte da caminhada do bem. Isso é oferecer o pacote completo. Mais do que o “Tamo junto”, o “Conte comigo” e o abençoar chileno que recentemente lemos aqui… Que te vaya muy bien!

Uma outra história

Esses dias, ouvi de uma amiga uma história que me emocionou muito.

Um de seus sobrinhos, Fábio de 9 anos, quebrou o fêmur. E lá foi a família para um hospital público.

Demora no atendimento, indiferença, o sofrimento do Fábio, tudo isso eles experimentaram. Até que surgiu o Vanderley, enfermeiro. Aproximou-se, abriu portas, acompanhou todo o processo curativo. Nas palavras da família, tomou-o como se fosse seu próprio filho. Nas revisões estava também presente.

Tornou-se um amigo da família (sim, de frequentar a casa, inclusive). A tal ponto que, quando a avó do Fábio adoeceu e teve uma infecção generalizada, Vanderley assumiu o comando de novo… Um outro anjo da guarda, um homem do bem na vida daquela família.

A parábola e essas duas histórias contam a mesma coisa. Que bom sermos alvos desses anjos! Mas, mais do que isso… Por que não vencemos a indiferença, o ativismo, o pretenso medo algumas vezes, e não tomamos a iniciativa de chegar junto, aproximando-nos? O alvo de agressão caído a beira da estrada, a família em desespero num trecho sem acostamento, o menino com a perna quebrada em agonia… Esses personagens nos cercam todo o dia, com nuances diferentes, mas estão sempre ali.

Você e eu podemos ser anjos da guarda, que não só se aproximam, mas cuidam. Levando-os a um lugar seguro (a hospedaria da parábola) e acompanhando. Sempre.

Assim poderemos chegar perto de um mundo melhor, em que nos revezaríamos, ora como doentes e fragilizados, ora como anjos da guarda. Olha bem, porque bem tem.

Dirceu Amaro Junior